Barroco em Sergipe: soneto de Gregório de Matos


Descrição da cidade de Sergipe d’El Rey
Três filas de casebres remendados
Sete becos de mentrastos entupidos
Cinco soldados rotos e despidos
Doze porcos na praça bem criados.

Dois conventos, seis frades, três letrados
Um juiz com bigodes sem ouvidos
Três presos de piolhos carcomidos
Por comer dois meirinhos esfaimados.

As damas com sapatos de baeta
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de chita, cinta de raquete.

O feijão que só faz ventosidade
Farinha de pipoca, pão de greta
De Sergipe d’El Rey esta é a cidade.


Vocabulário colonial
esfaimados: famintos
mentrastos: de mentastro, referente a resto de ervas da família das labiacidas
meirinhos: fiscais, cobradores de impostos.
sapatos de baeta: tipo de sapato de camuça, símbolo de status
pão de greta: pão mofado


Comentário do Historiador Thiago FragataSoneto atribuído a Gregório de Matos e Guerra, o mais polêmico dos poetas coloniais. Com ironia e sarcasmo seus versos lhe renderam o apelido de Boca do Inferno. Ao estilo dos versos tecidos para a Bahia, a Descrição da cidade de Sergipe d’El Rey, como era conhecida São Cristóvão, constitui prova de que seu autor esteve in loco na fonte de sua inspiração. Certamente, o poeta baiano passou pela então capital sergipana, em fins do século dezessete, antes de seguir para o exílio na África. O fato teria ocasionado, então, a obra poética que disseca a sociedade sancristovense, na sua (des)ordem administrativa, religiosa e material.

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