Foto dos Anais do Seminário Nacional de Políticas Públicas para das Culturas Populares em Brasília, 2005. |
2016... O
último sábado, 5 do mês do folclore, silenciou José Gonçalo dos
Santos, 75 anos, mais conhecido como Mestre Rindú. Ele nasceu no
Apicum Merém, em 18 de setembro de 1940. Sua voz gultural não mais
comandará a percusão da Caceteira, o bendito da Chegança, grupos
que se moviam encantados pela sua pantomima. Os estudiosos dos ritos
folclóricos creditavam à herança familiar o fator determinante do
conceito e da sua preservação. A Caceteira estava na vida dele
desde criança. Lembremos o seu depoimento: “comecei muito cedo,
tinha lá por uns 8 anos. Todo mundo da minha família brincava
caceteira. Zé Filomeno, meu avô e minha avó Antonia, meu pai Gino
Alfredo dos Santos e minha mãe Maria Noêmia dos Santos. Era tudo na
brincadeira uma animação danada. Ai a gente ia vendo, aprendendo e
daí a uns tempo tava dançando a Caceteira e outras coisas mais.
Dentro dela, tou até hoje.”(1)
Conheci o Mestre Rindú no ano de 2005, quando trabalhei na
Secretaria Municipal de Cultura, na condição de Diretor Cultural,
gestão do saudoso prefeito Zeziho da Everest (2005/2006). No ano
seguinte, integramos a comitiva sergipana que participou do Seminário
Nacional de Políticas Públicas para das Culturas Populares, em
Brasília. Guardo com carinho uma foto sua vestido de Capitão da
Chegança que ilustrou publicação do evento. (2)
Passaram-se 10 anos e o Mestre Rindú não parou os ensaios e as
apresentações da Caceteira e da Chegança, mesmo com dificuldades
financeiras, desfalque de brincantes, etc. Em praticamente todos os
eventos culturais do Estado seu grupo foi presença indispensável.
Folcloristas como Luiz Antônio Barreto e Aglaé Fontes pesquisaram
e publicaram obras dedicadas ao assunto. Aliás, Aglaé Fontes, na
condição de Secretaria de Cultura de São Cristóvão da gestão de
Alex Rocha (2008/2012), publicou a obra “Mestre Rindú”. (3)
Das homenagens grangeadas por José Gonçalo dos Santos, um simples
pescador que se fez Mestre Rindú numa jornada memorável pela
cultura popular, vale destacar:
- Medalha Mestre Candunga, outorgada pela Prefeitura Municipal de Laranjeiras, no Encontro Cultural de Laranjeiras, 2011;
- Medalha Mérito Cultural Tobias Barreto, outorgada pelo Governo do Estado de Sergipe, no ano de 2015.
E pertinente lembrar que até a década de 1980 haviam mais de uma
caceteira na cidade, nomes como Zeca de Noberto, Dona Biu, João de
Cota, comandaram esta brincadeira. Mas durante os últimos 20 anos, o
Mestre Rindú tornou-se o ícone absoluto da Caceteira. A caceteira é
uma manifestação folclórica do período junino, exclusiva de São
Cristóvão. Entoando cantigas do cancioneiro popular, homens e
mulheres compõem o cortejo animado por zabumbas, ganzás e cuícas.
O nome caceteira lembra o processo artesanal de sova do couro dos
instrumentos de percussão e o próprio batuque “à base de
cacetes”.
De acordo
com a tradição, todos os anos, no dia 31 de maio, a Caceteira
percorre as ruas do centro histórico numa batucada que festeja a
chegada do mês junino. A meia-noite, o repique dos sinos das igrejas
centenárias é louvado com emoção: “o sino do Carmo abalou,
abalou, deixa abalar”, diz o refrão. (4)
O Mestre
Rindú que abalou a vida cultural de São Cristóvão, seguiu
para o plano espiritual, no domingo, (6/8) após missa de corpo
presente, canto do bendito da Chegança e últimas homenagens de
autoridades, parentes, amigos e admiradores. Doravante, no mês
dedicado ao folclore, os brincantes terão um motivo a mais para
pular: preservar a memória do Mestre Rindú.
Relíquias do Mestre Rindú. Foto: Thiago Fragata, 2017. |
Texto publicado no jornal Tribuna Sergipe
Del Rey. São Cristóvão, set. 2016.
REFERÊNCIAS
1
- Entrevista do Mestre Rindú para Aglaé Fontes, concedida a Aglaé
d'Ávila Fontes em 2012.
2
- Seminário Nacional de Políticas Públicas para das Culturas
Populares. 2a. Edição. Brasília: Governo Federal/MinC, 2016,
p. 10.
3
- FONTES, Aglaé d'Ávila. Mestre Rindú - José Gonçalo
Santos. São Cristóvão: PMSC/FUNPATRI, 2012.
4
- FRAGATA, Thiago. Mestres do Folk: Mestre Rindú, 10 de
agosto de 2007,
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