THE BAGGIOS É PRA ENLOUQUECER!

José Silval, Baggio, inspirou a banda


Thiago Fragata*


Serafim Santiago viveu em São Cristóvão na segunda metade do século XIX, ele escreveu a vida, fatos e nomes da cidade no início do século XX, produzindo um texto de memórias vertido em livro (2009) por ser uma referência dos pesquisadores, a mais conhecida, não a única. Bom, estou exercitando na leitura de algumas composições de Julio Andrade o retrato e memória da sua cidade/infância. Ironicamente, escreve no início do século XXI.

Quero me deter em 3 personas do universo poético das letras que embalam o rock-blues da The Baggios, banda que completa 10 anos de sucesso, 3 indivíduos incompreendidos pela sociedade que os classificaram loucos. Assim como Julio Andrade também deparei-me com os caras pirados, um mais tranquilo, outro agitado, um terceiro agressivo, colocando garotada pra correr de botar coração pela boca...

BAGGIO - Conheci nos anos de 1980, ele tem uma irmã casado com meu tio Fernando. Lembro que o esforço de todos os familiares para compreendê-lo naquela época era chamá-lo Raul Seixas. Ela tocava violão divinamente, filosofava no meio dos jovens da Avenida, bairro onde morava e passei parte da minha infância. Das tiradas memoráveis, lembro dele comprando cigarro no retalho, custava algo como 2 cruzeiros, ele pechinchava "vou fumar 1 cruzeiro porque a biana jogarei fora!" Outro dia dediquei uns parágrafos a ele num texto chamado "Bispo & Baggio: yes, nós temos maluco beleza".

LEÃO - O mais temido doido da infância. Ele andava com um saco nas costas, sujo, cabelo e barba negros enlameados, alvoroçados e armados como uma juba. Mas não era isso que fazia a garotada apupar a certa distância "esturra Leão". Quando não mais suportava o apelido, na sua perturbação, reagia a incitação, rugia grotescamente, sacudindo os braços, saltando e correndo na direção dos pestinhas. Eu até juntava com a galera mas faltava coragem de gritar "esturra Leão", o que num faltava era perna pra correr, pé para bater na bunda!

ZORRÃO - Também andava com um saco, era seu guarda-tudo, roupa e alimentos. Era educado alguns dias, cumprimentava; outros falava uma língua estranha que só ele entendia - ou parecia entender. O fato era que por cantar e ser um tanto educado e até asseado alguns dias conquistava amigos que recebia ele em casa. Ele tomava café na casa de fulano, almoçava na casa de beltrano, jantava na casa de sicrano, dormia... num sei onde! Lembro dele cantando e dançando no meio da praça; fazia bateria, trompete, percussão, tirando toda sinfonia do corpo. Hoje classificaria seu idioma de javanês! 

Eis o trio maluco-beleza da nossa juventude, Julio Andrade. Gostei muito do "Esturra Leão" e "Um rock para Zorrão" incluso no Sina (2013), último disco do The Baggios. Para não perder o trocadilho, espero que a banda possa deixar todo mundo "aperreado" no próximo sábado, 19/4, no show de gravação do DVD, no teatro Atheneu em Aracaju.


Divulgação


* Thiago Fragata é poeta e historiador. Email: thiagofragata@gmail.com

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