CRISTIANE MORAIS PREFACIOU FRAGATAS NÃO VOAM SÓ

Cristiane Moraes tira poesia do violão


Fragatas Não Voam Só - Poesias Encantadas será lançado no próximo dia 17 de março, quarta, a partir das 20 horas, numa live-sarau do perfil do seu autor, Thiago Fragata @thiagofragata1844 
 
Capa

Confira o prefácio (texto integral):

QUANDO “O ESTADO DE SAÚDE É POÉTICO”

Ler poesia é pedir licença para acessar quintais de memórias, o motivo do contínuo respiro ou o escudo para a alma neste meio estanque do poeta que vive. “Fragatas não voam só – poesias encantadas”, em primeiro instante, me lançou para a beleza da vida em trama com a música, cinema e teatro. Um presente de fé com a existência poética, acarinhado pela mãezinha das águas na costura de versos “ [...]Jana, Janaína”. E nesta brincadeira de pés descalços, falatório, repertório, território sergipano que só da escuta cantada pouco conheço... voo e me vou com suas asas longas a confortar o pensamento com todo este fragmento, de inquieto deleite, sua presença na linguagem combativa e precisa a afirmar a identidade coletiva, do povo negro, nordestino e brasileiro.

Meu assunto é uma coletânea de 40 textos produzido nos últimos 30 anos de Thiago Fragata, codinome de José Thiago da Silva Filho. Diferente do primeiro, São Cristóvão Poética e Xilogravada”, de 2015, que teve o patrimônio da cidade natal como mote inspirador, a obra inédita desvela uma poética harmoniosa e dramática, a sugerir que os textos são composições a espera de arranjo musical - aqui uma linda aproximação com a minha palavra-canção!

A obra se acha segmentada em 3 capítulos. No primeiro, Literoativo & Poeticamente, junta poesia terapêutica, com arcaísmos, intertextualidades, numa lúdica a perpassar idades, linguagens artísticas. Aprecia exegese, o trocadilho, a ironia e até repetição e silêncio entende como figura de linguagem. Gosto do seu jogo de palavras a desconstruir a lógica usual das expressões, para brincar ou desvelar novos sentidos. Alguns neologismos aparecem nessa empreitada.

Segundo capítulo, Rap Sergipanês, é a lúdica da prosódia sergipana, da forma gostosa de falar, ora puxando pela memória afetiva, sim porque quem já provou da moqueca de fôia da bananeira vai sentir do cheiro da danada durante a leitura. Faz poesia do arremedo de expressões e ditos populares recorrentes, alguns nem tanto; da polissemia as divertidas figuras de linguagem que a saborosa prosódia sergipana inspira no brincar com as palavras, enfim, da “tronxura” ou da “lonjura” de sergipano, o “home” fez versos.

Poesias de Combate é o título do último capítulo. Nele o verso milita contra o preconceito, o racismo de maneira especial, por figurar como herança maldita dos tempos do Brasil Colônia quando os negros eram animalizados e brutalizados através da escravidão. Também figuram versos dedicados a grandes personalidades da resistência, seja no mundo das artes, caso de Garcia Lorca, seja no campo de nobres ideais, caso de João Bebe-Água, anti-herói da Mudança da Capital de São Cristóvão para Aracaju/SE, no ano de 1855.

Fragata considera a poesia como elemento que transcende a literatura. “ A poesia - esclarece - se acha nas Artes Integradas, porque entre a música e o teatro manifestasse na leitura dramatizada dos textos”. Assim, dentro desta concepção, define sua poética como litero-ativa, ou seja, se manifesta na performance.

Thiago Fragata é um encantador de palavras e o nosso encontro se deu por este encantamento que alinho na palavra-canção. Do verbo que não se encaixa e que diz muito numa métrica rápida; do ataque preciso à hegemonia, além de provocar sorrisos com seus trocadilhos, aliterações. Ah! Menino velho moço, de sorriso largo e pintor de filosofias em brincantes protestos. É a certeza de sua competência, erudição e originalidade que enriquece em abundância essa obra.

Cristiane Morais (Piena Branca)

Arteira de Mogi das Cruzes/SP, compositora, poetisa e autora do livro artesanal “Vento de Mar, fogo de vela: poesia e palavra-canção” 2020

 
 
OBS: O livro foi contemplado no edital Literatura e Artes Visuais 05/2020, da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (FUNCAP/SE), com aporte de recursos da Lei Aldir Blanc. Deseja saber mais, garantir seu exemplar? Clique aqui

 

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