Thiago Fragata*
“Fã é abreviatura de fanático”. Não recordo onde li a sentença,
texto apresentava o perfil dos participantes de um fã-clube. O primeiro deles, o
fã modista, gostava do artista “do momento”, no o auge da carreira, acalentava
um amor volúvel que sumia assim que o brilho da estrela esmaecia, deixava de
aparecer na imprensa. O segundo, o fã travestido, fazia grande esforço para se
assemelhar ao ídolo, às vezes somente ele enxerga isso, comportava-se como se
astro/estrela fosse uma projeção narcísica, que preenchia sua falta de
amor-próprio. Por último, o fã apaixonado, que não apenas vestia mas consumia
tudo referente ao ídolo, sabia das intimidades, alimentando amor platônico e
esquizofrênico por toda a vida, com um detalhe, pouco se importava com o fato de
ser desconhecido(a) para quem dedicava sua existência.
Fui um fã modista,
confesso. Não tenho medo de falar dos meus ídolos da juventude. Resumidamente,
tive 3 ídolos na juventude: o cantor Elvis Presley (1935/1977), o jogador de
basquete Michael Jordan (1963/-), o dançarino e cantor Michael Jackson
(1958/2009). Adolescente me apaixonei por Elvis Presley. Aquele riso, aquelas
roupas, aquele jeito de dançar, ahhh! e nos seus filmes as meninas o adoravam.
Não desejava ser uma das meninas, desejava no filme e na vida real ser ele, The
Pelvis. Costelas quadradas no maxilar e cabelos com gel, gola pra cima. Tive a
coleção completa de LP, box vermelho, a cor da paixão!
Outro dia achei uma foto
desbotada dessa fase... um Elvis Presley negro, pensei. Talvez o assunto gere
desconforto aos amigos(as), lembrar os ídolos que eles tentaram se parecer, se
vestir...há quem afirme nunca ter sido influenciado(a) pelo universo midiático,
qual jovem conseguiria? Hoje é fácil mentir, negar, rasgar fotos. Tentei me
parecer com Elvis...fui um fiasco em tudo, não consegui aprender inglês até
hoje, quando minha única intenção, no colégio, era aprender a língua universal
para cantar daquele jeito! Até hoje eu amo Elvis Presley, suspiro quando assisto
suas performances... (Se você nunca amou um ídolo, fica na sua tá!)
Cursava 2º.
ano do Colégio Agrícola - atual IFES São Cristóvão - em 1992, quando fui
convencido que podia ser um jogador de basquete. Não foi difícil raspar cabeça,
comprar camisa 23 e se parecer com Michael Jordan, estrela do Chicago Bulls, por
exemplo. Minhas ambições eram mesmo estratosféricas, não acham? Fui um desastre
na quadra em todas as partidas, foram muitas. Não recordo uma cesta de 3 pontos!
Eu era bom em “se parecer e me aparecer” um jogador de basquete (risos); camisa
numerada, short alongado, cabelo na 1, sem o bigodinho. Se alguém falava
“Jordan” perto de mim, deixava a coluna ereta e olhava de lado envaidecido (mais
risos) Naquele tempo o espelho mentia pra mim, alguns amigos também...
Abandonei
o futebol aos 12 anos porque xingaram mamãe, alguém insatisfeito com meu
desempenho. Xingar a mãe sempre foi meu calcanhar de Aquiles. A tragédia
repetiu-se, perturbava-me pensar na sagrada mãe sendo ofendida por conta dos
“pecados” do filho que deveria lhe render orgulho. Não identifiquei sujeito na
torcida, mas aquilo doía, então parei, desistir da bola laranja. Na juventude,
participei de um grupo de dança de rua com estilo variando entre o break e o
merengue baiano; o coletivo era liderado pelo jovem Ezequiel da Capoeira, futuro
Mestre Pássaro Negro. Até hoje, ele é uma referência cultural em São
Cristóvão/SE.
Fui um dançarino mediano, tinha uma boa flexibilidade, pernas e
braços longos. Nessa época escanteei Elvis Presley como ídolo, tudo porque um
novo astro entrou em nossas vidas de forma avassaladora, seu nome, Michael
Jackson. Ah! Todos ali queriam dançar como ele, deslizar pelos calcanhares.
Vislumbrei vantagem, afinal tinha chances de ser confundido com Jackson, ele era
um homem negro, até sua despigmentação. O grupo de Ezequiel reunia cerca de 18
garotos, oriundo dos bairros Avenida Otoniel Amado, Jardim, Pintos, Divinéia,
Alto Santo Antônio, Beira-Mar, Apicum, Baixada e Campo da fábrica velha.
Ezequiel e Vadinho, popular Neguinho da Fonte dos Padres, formavam uma dupla
sensacional, fosse lutando capoeira ou dançando discoteca na casa de show de
Nilson, no bairro Pintos.
Maninho, apelido do meu irmão Emmanoel Políbio,
superava-me nas danças, minha vantagem era que eu sabia tocar os instrumentos
musicais, da capoeira. Insistir por um tempo em dançar como Michael; botei
roupas pretas, gel no cabelo, fiz ensaios na frente do espelho, botando sabão-pó
no chão pra ajudar no passinho pra trás, o tal moonwalk. Fiz de tudo mas não
deu...Raiva! Agora lembrei, foi assim que fraturei uma perna... Ainda bem que
nas esquinas na maturidade encontrei o amor-próprio.
Então percebi que as
loucuras de fã, como toda carta de amor, são ridículas. Não seriam ridículas se
não fossem loucuras de fã.
*Escritor, historiador e multiartista. Texto do livro
inédito CRONICÁRIO DAS MEMÓRIAS - SÃO CRISTÓVÃO/SE. Publicado no JORNAL DA
CIDADE, Aracaju, 8-9/7/2025.