AS CARTAS DE IRMÃ DULCE

Irmã Dulce (destaque) no Convento do Carmo de São Cristóvão, 1934.
Acervo Obras Sociais Irmã Dulce


RESUMO: artigo cruza informações de cartas da noviça Maria Rita Lopes, futura Irmã Dulce, endereçadas de São Cristóvão, em 1933, a sua superiora, Maria Gertrudes Tombrock, fundadora e Madre Superiora da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição (IMIC), que estava no Convento de São Boaventura, em Nova York.


 

AS CARTAS DE IRMÃ DULCE

Gaetano Passarelli esteve em São Cristóvão, antes de publicar Irmã Dulce: o anjo bom da Bahia, em 2003. Na ocasião, garimpava informações sobre a estada da religiosa no Convento de Nossa Senhora do Carmo, entre fevereiro de 1933 e agosto de 1934. Lembro da entrevista concedida pela Irmã Hilária, da Santa Casa de Misericórdia, a respeito do seu convívio com a Irmã Dulce, quando ela ainda se chamava Maria Rita Lopes Pontes. Foi nesse momento que tomei conhecimento de que a Irmã Dulce escrevera cartas e memórias sobre a quarta cidade mais antiga do Brasil.


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CRISTO REDENTOR DE SERGIPE

Thiago Fragata*

Recentemente, o Ministério Público solicitou parecer técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/SE) sobre as potencialidades culturais do Cristo Redentor de São Cristóvão. A iniciativa poderá resultar no tombamento, ou seja, “num ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados”.[1] No caso do monumento do Cristo, isso favorecerá a resolução de problemas que tem ameaçado sua integridade e salvaguarda. Intervir para apresentar dados históricos constitui o modesto objetivo desse artigo.

Em fevereiro do ano corrente, a Secretaria Municipal de Obras de São Cristóvão realizou alguns reparos na colina São Gonçalo, com pintura a cal do monumento e instalação de iluminação. Uma surpresa, pois a praxe era o prefeito alegar não existir recursos e que a obra era propriedade do Governo do Estado. Por isso o Cristo Redentor de São Cristóvão completou 80 anos em 2006 e nada foi realizado, nem liturgia, nem parabéns! Tivera uma “grande reforma” anunciada pelo governo municipal de 2003, que providenciou a imediata demolição dos banheiros públicos e do restaurante, mas ficou na propaganda.[2] E o descaso dos últimos anos apagou seus holofotes, o local virou zona marginal, de sacrilégios e depredações.

Antes de considerar o monumento sergipano, conveniente fitar o mais famoso redentor do Brasil. No dia 7 de julho de 2007 foi revelado “As Sete Novas Maravilhas do Mundo”, como resultado de um certame organizado pela UNESCO. Os monumentos mais votados foram: a Muralha da China, a cidade de Petra (Jordânia), Machu Picchu (Peru), Chinchén Itzá (México), o Colizeu (Roma), o Taj Mahal (Índia) e o Cristo Redentor (Brasil). A idéia de erigir o Cristo Redentor do Rio de Janeiro remonta o século XIX, mas somente em 1921, dentro das festividades do centenário da Independência do Brasil, ela começou a virar realidade. O projeto arquitetônico foi elaborado pelo engenheiro Heitor da Silva Costa, seu desenho teve a genialidade do artista plástico Carlos Oswald, ficando a escultura aos cuidados do francês de origem polonesa Paul Landowski. Os trabalhos começaram em 1926 e sua inauguração em 1931.

Coincidência ou não, em 1926 foi inaugurado o Cristo Redentor de São Cristóvão. Conclusão: Sergipe tem a primeira estátua de Cristo Redentor do Brasil, fato ignorado por muitos sergipanos. O dado foi evidenciado no levantamento empreendido pelos pesquisadores da Faculdade de Belas Artes de São Paulo, em 1984, que após identificar a existência de 1200 redentores brasileiros destacaram o exemplar sergipano como mais antigo e original, pois ele diverge da matriz carioca.

O Cristo Redentor sergipano foi construído entre os anos de 1924 e 1926, na colina São Gonçalo, há dois kilometros do centro histórico da ex-capital. A obra tem 16 m de altura (10 m de base e 6 m da estátua) e foi encomendada pelo Governo de Graccho Cardoso (1922/1926) ao arquiteto Bellando Belandi. Não foi possível localizar biografia desse artista, sabe-se que integrou a “missão italiana” ao lado de Serceli, Oreste Gatti, e Frederico Gentil. Em conjunto, esses homens inovaram a arquitetura sergipana nas primeiras décadas do século XX.[3]

A inauguração realizada no dia 24 de janeiro de 1926 foi marcada pelo discurso do padre Luiz Gonzaga, da Bahia.[4] A área ganhou restaurante e banheiros públicos em 1972, benfeitorias da administração municipal de Paulo Correia. Até meados da década de 1980, o Cristo era um legítimo atrativo turístico da cidade histórica, também área de lazer das famílias, de festas populares, excursões escolares e de missas campais. Desde a sua inauguração que a igreja organiza caminhada e soleniza o Cristo Rei perante a imagem. Curiosamente, o grupo folclórico Caceteiras mantém a tradição de dançar até ele para saudar a chegada do mês junino.

Infelizmente, o mérito do Cristo Redentor de Cristóvão permaneceu, permanece desconhecido pelas instituições culturais de Sergipe. Isso não é o pior. O Cristo Redentor de São Cristóvão fundado às expensas do Governo do Estado não é tombado pelo mesmo, tampouco pelo Governo Federal. Compare-se o disparate: o Cristo Redentor do Rio de Janeiro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937, o monumento sergipano é símbolo do descaso, pode voltar a enegrecer no limo e sofrer mais depredações.

No ermo da colina São Gonçalo o Cristo Redentor sergipano divide a paisagem com duas torres metálicas de telefonia, o que é um absurdo. A Carta de Atenas (1931), documento-base da orientação à salvaguarda do patrimônio arquitetônico, em seu parágrafo III, ao tratar da valorização dos monumentos, recomenda “a supressão de qualquer publicidade, da presença abusiva de postes ou fios telegráficos, de todas as indústrias ruidosas, e mesmo de chaminés altas na proximidade de monumentos artísticos ou históricos”.[5] Certamente que a retirada das horrendas torres dependerá da interpretação do parecer solicitado pelo Ministério Público ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Outro desdobramento possível do importante documento será uma pesquisa arqueológica para estudar as fundações na colina São Gonçalo. Sabe-se que o Cristo Redentor foi erigido sobre as ruínas de uma antiga construção. Teria sido a capela São Gonçalo ou São Cristóvão? O local foi uma missão jesuítica ou mais um sítio da ex-capital?[6] Somente a intervenção de peritos da arqueologia histórica poderá desenterrar a resposta para tais hipóteses.

A preservação do Cristo Redentor de São Cristóvão depende do seu tombamento, mas que não seja literal. Assim, aguardemos as providências do Governo Federal, Estadual e Municipal. A iniciativa do Ministério Público atenta para um princípio ausente nos programas das instituições de cultura e turismo. Para Sergipe divulgar Sergipe é preciso antes conhecer, conhecer porque não se valoriza e divulga um patrimônio cultural ignorado.


*Thiago Fragata é pós-graduando em História Cultural (UFS) e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS). E-mail: thiagofragata@gmail.com. artigo publicado no JORNAL DA CIDADE. Aracaju, 19/08/2008.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Cartilha do Tombamento. Pró-Memória, s/d.
[2] Conhecer Sergipe: Cristo Redentor de São Cristóvão. Cinform. Aracaju, ed. 1065, 8-14/9/2003, p. 10.
[3] PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica e Ed. J. Andrade, 2003, p. 38.
[4] BARRETO, Luiz Antônio. Graccho Cardoso: vida e política. Aracaju: Instituto Tancredo Neves, 2003, p. 81.
[5] PRIMO, Judite (Org.) Museologia e Patrimônio: documentos fundamentais. Cadernos de Sociomuseologia. São Paulo, 1999, N. 15, p. 79.
[6] WYNNE, Pires. História de Sergipe. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972, p. 53.

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