Quem foi Maria Vesta Viana? No catálogo 2 séculos de Artes Visuais em Sergipe (2008), ela figura como “artista Naif que despertou com sua arte o interesse de personalidades como Jorge Amado e Zélia Gattai”. O ilustre casal de escritores incentivou a carreira da jovem menina sancristovense que conheceram pintando num quintal da casa onde sua mãe Noêmia vendia doces, localizada na rua Santa Cecília, do centro histórico. Resumo, em dois fatos, o que potencializou o sucesso e o alcance da arte da “artista primitivista”, conforme Jorge Amado publicaria numa edição especial de 1970 da Revista Manchete: Primeiro, o rumoroso sumiço (roubo) do quadro da artista da sala do escritor baiano. Na verdade, uma brincadeira do compadre Dorival Cayme, conforme noticiado pelos jornais cariocas. Segundo, o Festival de Arte de São Cristóvão (FASC), que teve a primeira edição em 1972. Essa edição do FASC elevou aos píncaros a obra da artista Vesta Viana que, tendo o seu nome já firmado na cena cultural, montou um ateliê. E, assim, por duas décadas (1970/1980), seus quadros tematizando casarios e igrejas coloniais, e também paisagens, atraíram uma clientela seleta de famosos marchands estrangeiros.
Voltando a lamentar os azulejos de Vesta Viana, recordo que a conheci por volta de 1988, trabalhando numa repartição instalada naquele prédio. Era a Exatoria, salvo engano. Meu impulso para conhecê-la partiu de uma questão familiar: ela era madrinha do meu pai, o popular Tiago do Gelo. Não me contive com a descoberta... subi a ladeira e fui ao seu encontro. Ela me chamava de Thiaguinho e eu queria saber de tudo da sua vida. Como resultado da amizade, fiz cerca de 5 entrevistas, publiquei alguns artigos sobre a sua vida e obra, mediei algumas matérias para televisão. Ela compartilhou sua coleção de correspondências trocadas com o casal Jorge Amado e Zélia Gattai, bem como seus cadernos de poesias e documentos históricos – a exemplo do “Livro de orações contra a peste (Cólera), de 1856” – e as histórias do seu falecido pai Zeca Viana com dotes de cronista.
É corrente entre nós a obsessão barroca da eternizar as obras de arte. Acho que para compensar a brevidade da vida. Sobre os azulejos, tenho algumas sugestões para a sua preservação. Sim, eles perdem pigmento com o passar dos anos, mas é fato que a situação se agravou porque alguém tentou raspá-los com palha de aço na intenção de “limpar” a tinta dos azulejos muito desbotados! Que triste...
Se, porventura, a Prefeitura Municipal de São Cristóvão aceitar sugestões, considero viável a remoção de sujidades e um banho de verniz fixador visando a sobrevida das obras. Posteriormente, o conjunto de azulejos poderia ser removido do banheiro do Conselho Municipal de Saúde, fixado num quadro e doado para algum museu. Ou, então, depois da primeira intervenção, o prédio poderia figurar como um “lugar de memória de Vesta Viana”, um espaço para lembrar, (re)memorar ou (co)memorar a presença da grande artista sancristovense.
Maria Vesta Viana, além de artista plástica, era poetisa e pesquisadora da experiência histórica de sua amada cidade. Uma das últimas ações em que esteve envolvida como agente cultural foi na campanha da Praça São Francisco – tantas vezes representada em suas telas! – para receber o selo UNESCO de Patrimônio Mundial em 2010. Por tudo o que fez, pela divulgação do patrimônio cultural de São Cristóvão, seus azulejos merecem um olhar consciencioso. Alguém concorda?
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMADO, Jorge. Salvador-Aracaju: roteiro saboroso para viajantes sem muita pressa. Revista Manchete (edição especial), São Paulo, outubro, 1970, p. 144.
CHOU, José Walter Teles et al. Dois Séculos de Artes Visuais em Sergipe. Aracaju: Sociedade Semear, 2008, p. 86.