ARMINDO PEREIRA: CONTISTA E ROMANCISTA INÉDITO EM SERGIPE



POR GILFRANCISCO* - gilfrancisco.santos@gmail.com

Ficcionista sergipano, Armindo Pereira (1922-2001) nasceu com a literatura nas veias, vários contos de sua autoria mereceram excelente classificação nos concursos literários de que participou. Desde a sua estreia que a crítica, imediatamente, descobriu uma autêntica vocação de homem de letras. Sua obra anônima para os sergipanos, merece urgentemente ser reeditada pelos podres poderes do Estado. Recentemente, o pesquisador e professor da UFS, Antônio Fernando de Araújo Sá, publicou artigo sobre o anonimato, dando uma contribuição notável aos futuros estudos sobre sua obra.

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Armindo de Castro Santos Pereira, nasceu em 8 de setembro de 1922 em Aracaju – Sergipe, um dia após as comemorações do 1º centenário da independência política do Brasil. Seu pai Manoel Cândido dos Santos Pereira, advogado e professor, e sua mãe Eliphia de Castro Santos Pereira, originária da cidade de Alagoinhas-Bahia, onde seus avós maternos franceses; Manoel da Paixão e Cândida da Paixão, colocaram-na interna no Colégio das Freiras, recebendo fina educação. Dona Eliphia falava e escrevia corretamente o idioma francês. Seu pai Manoel Cândido, também baiano das Minas de Rio de Contas, onde seus avós paternos portugueses, Armindo Santos Pereira e Perpétua Santos Pereira, eram pequenos proprietários rurais. Este município baiano, com uma sede situada a uma altitude de mais de 1000 metros, possui um dos maiores conjuntos arquitetônicos coloniais do Estado e algumas das montanhas mais altas da Região Nordeste do Brasil, além de possuir povoados históricos originados dos antigos garimpos e quilombos. Seu nome deriva da antiga denominação do rio Brumado, em cujas margens surgiu o embrião da cidade ainda no século XVII: Rio de Contas Pequeno.

Pretendendo seguir a carreira religiosa, seu pai desistiu antes da ordenação, e decidi estudar ciências jurídicas e sociais em Salvador. Mesmo casado, continuou profundamente religioso e servindo à igreja. Em Salvador nasceram os primeiros filhos do casal. Já bacharel, pela Faculdade Livre de Direito da Bahia, transfere-se para Aracaju e passa a desenvolver as atividades de professor de latim, português, francês no Atheneu Sergipense e por último ensina algumas disciplinas de Direito.

O político e professor da Faculdade de Direito de Sergipe, Manoel Cabral Machado (1916-2009), em artigo sobre seus mestres no Atheneu Pedro II, lembra do professor Manoel Cândido dos Santos Pereira, como um dos grandes intelectuais de Sergipe:

Outro sábio foi o professor Manoel Cândido dos Santos Pereira – a maior cultura clássica do Estado. Mestre do Latim, do Grego e do Português. Foi ao fim da vida, magistrado.

Aprovado em concurso público, seguiu a Magistratura como juiz de direito, passando por várias cidades do interior sergipano: Neópolis – onde nasceu um dos seus filhos, Manoel Cândido Filho em 1936, fruto do segundo casamento. Maruim (7ª Comarca,1938). Armindo Pereira tinha uma irmã de nome Isaura dos Santos Pereira (1920-1961), casada com o intelectual José Augusto Garcez (1918-1992) e outra de nome Maria do Céu, ambos do primeiro casamento. 

JOVEM ESCRITOR

Em Aracaju, Armindo Pereira fez os estudos primários e secundários. Quando menino e adolescente, deve ter morado em Itabaiana, cidade onde sua mãe falecera. órfão de mãe, desde criança, ia todo fim de ano, nas férias escolares, veranear nas cidadezinhas do interior onde seu pai trabalhava. Em Vila Nova da Rainha, atual Neópolis, cidade banhada pelo rio São Francisco, seu pai fixou residência. Armindo vivia intensamente a intimidade do lugar, com suas ladeiras e ruas estreitas, com sua gente, usos, costumes e sentimentos, os quais, mais tarde retratou em seus escritos com fidelidade e autenticidade.

Sua vocação literária nasce das leituras e colaborações desde os 13 anos na revista O Tico-Tico e mais adiante, foi influenciado pelas leituras das obras de Kafka, Camus, Cervantes, Dostoievski, Dante e a literatura grega. Antes de seguir para o Rio de Janeiro, teve uma passagem como revisor, na Imprensa Oficial do Estado.




TICO-TICO

Foi uma publicação infantil brasileira que circulou de 1905 a 1977, a primeira e a mais importante a publicar histórias em quadrinhos no país. Lançada pelo jornalista Luís Bartolomeu de Souza, seguia o modelo da revista francesa La Semaine de Suzette. Em suas páginas podiam ser encontradas passatempos, mapas educativos, literatura juvenil e informações sobre história, ciência, artes, geografia e civismo. Fotografias desenhos dos leitores, enigmas e concursos também eram publicados. Aos 13 anos de idade Armindo de Castro Pereira (como assinou nas três colaborações localizadas na Seção Meu Jornal, órgão dos leitores d’O Tico-Tico (A criança diz no jornal o que, quer). Os textos publicados por Armindo são os seguintes: Amanhecer (Ano III, nº43, 1937), Amanhecer na roça (Ano IV, nº 12, 1938), Sinhá Moça (Ano IV, nº17, 1938) e O Canto dos pássaros (Ano IV, nº18, 1938).


AMANHECER

Eis os primeiros sinais, no horizonte, nuvens rubras e sob estas, as andorinhas cortam o espaço com se voo rápido.
A terra aparece mais bela, com suas montanhas, seus vales, suas planícies. O sol apresenta-se à terra, despindo-a dos mantos de cerração noturna; sua luz se reflete no mar, esbatendo-se sobre a retina, como a querer relembrar-me os anos idos de minha infância.
O orvalho brilha sobre as plantas e os pássaros cantam.
Os colibris, os maviosos colibris, vão sugar o mel das flores; os homens se levantam; os bois mugem nos currais, enfim, tudo parece renascer! A Natureza desperta.

MENSAGEM

Órgão cultural , Ano I, nº3 de 7 de junho de 1939, número especial dedicado a Tobias Barreto, dirigido por Fábio da Silva, Walter Sampaio e Armindo Pereira. Colaboram neste número: José Sampaio, Maria Thétis, João Batista Lima e Silva, Floriano Mendes Garangau, Lincoln de Souza, Álvaro Moreyra. Informa o jornal Símbolo, Ano 1, nº 2, julho de 1939:

Circulou no dia sete do corrente, em edição especial como homenagem ao invicto pensador Tobias Barreto de Menezes, este aplaudido órgão estudantil, que alcançou mais uma vitória, pela brilhante e seleta colaboração. Mensagem representou condignamente a mocidade sergipana. Estão de parabéns os dinâmicos jovens que o dirigem, assim como todos os colaboradores dos quais dependeu também o magnífico êxito desta vibrante folha estudantina.


Sobre o conteúdo dos dois primeiros números de Mensagem, o jornal Símbolo trazia em sua edição nº 2 de julho, o seguinte comentário:

Recebemos os dois primeiros números de Mensagem, órgão cujo timbre modernista, a par com a selecionada colaboração, vem merecendo os mais vibrantes aplausos, mormente dos espíritos que sabem apreciar literatura moderna, a arte humana. Órgão este, sob a direção dos intelectuais: Armindo Pereira, Fábio da Silva e Walter Sampaio. Mensagem inaugurou otimamente seu tirocínio de divulgador da cultura estudantina. É inegavelmente a maior expressão na imprensa estudantil.

Tanto Mensagem como Símbolo, desempenharam papel de relevância na propagação do modernismo em Sergipe, onde velhos padrões literários foram rompidos com o ardor dos novos escritores. Mensagem dos Novos de Sergipe, criado em 26 de dezembro de 1942, na esteira do repúdio pelos torpedeamentos de navios de passeios ocorridos na costa sergipana, era uma associação de caráter cultural que congregou um grupo atuante. Esses jovens que se destacava no cenário intelectual, alguns como Walter Mendonça Sampaio, Pulo de Carvalho Neto, Enoch Santiago Filho, Luciano Lacerda, Aluysio Sampaio. Sindulfo Barreto Filho, João Batista de Lima e Silva, Lindolfo Campos Sobrinho, José Maria Fontes, José Sampaio e Álvaro Santos.

SÍMBOLO

Órgão cultural, direção de um grupo de ginasiano – representação jornalística de José Nunes Mendonça, Walter Sampaio, José Menezes Campos e Armindo Pereira criado em 1939, formato de 32,5x28,0 surpreendeu a todos com sua apresentação gráfica. Dentre todos os jornais estudantis da época, graficamente (formato e mancha) este é o de melhor apresentação, a começar pela sua formatação, número de páginas e um quadro de colaboradores de destaques na imprensa local. Vejamos o editorial do nº 1, maio de 1939:

Símbolo é um órgão cultural cuja finalidade é elevar cada vez mais o espírito sergipano, difundindo a cultura dos moços em ânsia de socorrer aos infelizes que morrem à fome, nas ruas engalanadas. Sem feição política ou regional, ele abrange todo o domínio da ciência.

O jovem Armindo Pereira, comparece em todas as edições de Símbolo: Marinha, nº1, maio de 1939; Um fantasma na noite, nº2, julho de 1939; A questão do ferro, nº3, agosto de 1939 e Dois contistas diferentes, nº5, fevereiro de 1940.

CAPITAL FEDERAL

Segundo relato do companheiro de tertúlia, Paulo de Carvalho Neto, em artigo “Mas quem foi que disse que a gente morreu? de 1942, achava que “o golpe desferido sobre Símbolo pesa-nos”. Queriam se calar mas não podiam, estavam todos atordoados, angustiados, perdidos: - Armindo Pereira chorando como uma criança. “Eu vou embora desta terra...” E foi mesmo. Walter Sampaio, publica em Símbolo nº2, julho, 1939, A nova geração intelectual de Sergipe: “As gerações são ondas de luz, que iluminam os séculos. As gerações são vidas que têm épocas, vidas que morrem deixando as sementes que germinam outras gerações”. E ele dizia que esta nova geração, “era representada também por Armindo Pereira, jovem de perspicaz audácia nas letras de Aracaju. É um jovem que marcha maravilhosamente para o caminho difícil da crítica e do conto e, por fim, do romance.

Em 1941, Armindo de Castro Santos Pereira transfere-se para o Rio de Janeiro e passa a residir durante os cinco primeiros anos, período em que cursa a Faculdade de Direito, da Universidade Nacional do Brasil – UNB - em casa do seu tio Perpétuo dos Santos Pereira, comandante da Marinha Mercante, - sempre trabalhando em jornais e revistas, eventualmente advoga. 



FLAGELO, AÇOITE E A ESFERA ILUMINADA

Romance de estreia, Organização Simões, coleção “Romances brasileiros, Flagelo foi publicado em 1954. Neste livro, Armindo Pereira, que já havia publicado contos em suplementos literários em revistas do país, estuda a condição de miséria das populações nordestinas, seu abandono, sua ignorância, suas superstições; as inundações, o drama dos retirantes, o cangaço, a fome – tudo isso passa no quadro rasgado em tintas forte pelo romancista. A segunda edição de Flagelo saiu pelas Editora O Cruzeiro, em 1957 numa edição bem cuidada, capa e ilustrações foram executadas por Darel e traz um prefácio do crítico e ensaísta Brito Broca. 



Armindo Pereira, diz que concluiu Flagelo em 1949:

Relendo-o, compreendi que não estava concluído. Deveria trabalhar mais: o tema me parecia bom, mas a forma estava imperfeita. Até que consegui dar ao tema uma forma que me parecia definitiva. Estava terminada a tarefa. Só então em 1953, levei o livro ao editor. E nos começos de 1954 era entregue ao público.

Flagelo esgotou-se em poucos meses. Para a 2ª edição, Armindo Pereira reviu o livro em sua maior parte, mas não reescreve, somente acrescentou inúmeros trechos novos que completam o romance, tornando-o mais compreensível e perfeito. Armindo é um ficcionista que se caracteriza pela simplicidade do estilo, por uma linguagem de sentido poético, por uma estrutura em que a notação psicológica se funde ao aspecto descritivo, fixando com grande realidade. O crítico e ensaísta Brito Broca (1903-1961), autor do prefácio, afirma que o escritor sergipano buscou inspiração para seu livro na Peste de Albert Camus:

Em flagelo a intenção alegórica é mais fluente, não sendo por isso menos perceptível. Sente-se que a descrição da cheia – o rio subindo, subindo, implacável e temeroso – não prevalece como um fato material em si, mas pela ideia que traduz. E essa ideia ia do “flagelo”, tomada por assim dizer na sua expressão metafísica: alguma coisa que está acima de nós, que não alcançamos, cujos desígnios impiedosos escapam às nossas possibilidades humanas.


Apesar de se encontrar num fogo cruzado, pois à época da sua publicação, um dos problemas mais discutidos pela crítica literária, era saber se o denominado “romance nordestino”, que teve como expoente José Lins do Rêgo, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e outros – já havia completado seu ciclo histórico ou se continuava ainda vivo, a produzir novos frutos. Na verdade, não há, porém, como filiá-lo à chama escola do romance nordestino, reafirmando, que tem em José Lins seu representante mais típico. O que Lins é pura descrição é Armindo Pereira paisagem interior e vida subjetiva.

Açoite, romance publicado pelas edições O Cruzeiro, em 1956. Nele, as qualidades de narrador demonstradas no primeiro no primeiro livro, Flagelo, são fartamente reafirmadas, a ponto de já não persistirem dúvidas quanto à autenticidade da vocação literária de Armindo Pereira. Açoite versa sobre o ultraconhecido mito nordestino da “Nêga Fulô” – mito sobre o qual o alagoano Jorge de Lima (1893-1953), compôs seu poema mais conhecido, se bem que não o melhor. Pois bem, a despeito de tratar-se de uma história difundida, e de cujo enredo o autor não poderia afastar-se, conseguiu Armindo Pereira, nesta narrativa de 160 páginas, prende à atenção do leitor.

Explica o autor numa entrevista concedida a revista carioca Vida Literária que:

Concluindo em 1953, o segundo romance, mas na verdade, desde 1945 que me vinha amadurecendo a ideia da transposição da história do conto “Nêga Fulô” para o âmbito do romance que afinal se chama Açoite – pois o tema se prestava a isso. Como se vê, um lento e complicado processo de criação, difícil de explicar.

Açoite é um livro que se lê com interesse, com agrado. 




A ESFERA ILUMINADA
 
Ensaios sobre livros e autores, publicado pelas Edições Livros Organização Simões em 1967, depois de onze anos do seu último livro Açoite (1956). A obra é prefaciada por Otto Maria Carpeaux, está dividida em quatro partes: a primeira “Estética Criadora”, reunindo trabalhos sobre teoria da criação e evolução estética; segunda – “Estética do Poema”, é composta de ensaios sobre a estética do poema, do conto e do romance, tendo um capítulo sobre o Nouveau-Roman; a terceira – “Perspectiva Histórica”, trata da dialética em crítica; a quarta, “Perspectiva Temporal” (comparações, interpretações e julgamento) compõe-se de estudos sobre escritores nacionais, entre eles, Adonias Filho, Brito Broca, Povina Cavalcanti, Carlos Augusto Góes, Joel Silveira e Zora Seljan. Segundo Carpeaux:

O novo trabalho do ficcionista de Açoite passa em revista, através de comparações, referências, interpretações e julgamentos, a obra de muitos dos mais atuantes representantes da atual literatura brasileira em todas as suas formas de expressão.

O crítico Carlos Augusto Góes, em resenha publicada na revista Leitura, diz que:

"Em A Esfera Iluminada, Armindo Pereira cuida é do artista consciente, integral, daqueles que elaboram seu trabalho sem menosprezo à intuição das normas, pois há sempre, no meio desses, os que se valem da empulhação para escandalizar, sob pretexto de arte moderna, quando os verdadeiros artistas de vanguarda têm consciência de seu labor penoso, sabem esperar, confiam na délivrance, que representa o acontecimento nesse estranho parto. Não forçam".

CORREIO DA MANHÃ (1901-1974)
 
Foi um periódico carioca liberal, que desde 1901, fez oposição a todos os presidentes da República, razão pela qual foi perseguido e fechado em diversas ocasiões e seus proprietários e dirigentes presos. Fundado por Edmundo Bittencourt e lançado em 15 de junho de 1901, numa época conturbada, com crises políticas e econômicas herdadas do seu passado colonial. No primeiro editorial de lançamento, Bittencourt declarou que “o Correio da Manhã não tem nem jamais terá ligação alguma com partidos políticos” e se comprometeu com a defesa dos interesses populares. Seu quadro de colaboradores de primeira linha, chamava à atenção de todos: Coelho Neto, Carlos Laet, José Verissimo, Pedro Leão Veloso, Lima Barreto e outros.

O jornal apoiou o golpe de 1964 contra João Goulart, mas em seguida voltou-se contra a ditadura, e muitos dos seus diretores foram presos. A proprietária na época, Niomar Muniz Sodré Bittencourt, arrendou o jornal a um grupo de empresários. Foi no período em que antecede o golpe, que Armindo Pereira trabalha no Correio da Manhã, assíduo colaborador entre os anos de 1962/1964, onde cria três colunas “Questionário”, “Cinco minutos com...” e “O que vamos ler”. Fiz um levantamento dessas publicações, que se aproxima de cem. Mesmo nesse período, Armindo Pereira publica várias críticas literárias.

Nos anos sessenta, Armindo Pereira exerceu o cargo de assessor de Relações Públicas da Revista do Livro, permanecendo até fevereiro de 1969. Colaborou em duas edições: INL – Do Diagnóstico Preliminar da Cultura, nº31, páginas 121-125, 1967 e Filosofia em Verbete, nº 34, páginas 185-187, 1968. 
 



MORTE 

A respeito da morte do romancista sergipano Armindo de Castro Santos Pereira (1922-2001), filho de professor Manoel Cândido Santos Pereira e autor de Flagelo e de Açoite, dois modernos romances brasileiros, ignorado pelos sergipanos, o pesquisador Jackson da Silva Lima confirmou: 3 de julho de 2001. Armindo Pereira publicou ainda: Doze Estórias (contos e novelas), 1973. Os Tesouros da Catequeses, 1983. De Drummond a Ledo Ivo e outros estudos, 1991.

*GILFRANCISCO é jornalista, escritor, Doutor Honoris Causa concedido pela UFS. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS

EX-VOTO

 

EX-VOTOS - FOTO: Marcio Garcez, 2008

 Por Thiago Fragata*

 

“Preciso pagar minha promessa; a procissão do Senhor dos Passos é próximo sábado!” Desabafou José Eleotério, popular Neneco, parado a porta do quintal, olhando as galinhas ciscando. Por um tempo ficou ali na manhã ensolarada da segunda-feira com um misto de culpa alfinetando a consciência como se esta fosse um boneco de vodu. Da reflexão concluiu que a derrota do Juventus, no campeonato, - incluindo aquela bola que não entrou -, teria sido obra do santo. O mesmo que curou-lhe a perna bichada mas que assim quitava a dívida pois não recebera seu merecido ex-voto. (continua) 
 

RESUMO: Recorda caso do romeiro do Senhor dos Passos que não tendo dinheiro para saldar o milagre pagando a elaboração de um ex-voto criou uma inusitada representação artística do seu pé.

 PALAVRA-CHAVE: ex-voto - Senhor dos Passos - São Cristóvão

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FLÔ, O ETERNO PIERRÔ

 

Thiago Fragata*

No intervalo entre um e outro Carnaval ele planejava fantasia para denunciar/protestar ou homenagear alguma personalidade, assim era o folião e artista Florisvaldo Costa Pereira, o popular Flô. Esse texto apresenta um pouco da sua vida e da genialidade que contribuiu para consolidar o festejo momesco em São Cristóvão. Ele nasceu na cidade de Laranjeiras/SE, no dia 28 de julho de 1940, filho de Maria José Costa Pereira conhecida por (Alzira) e Antônio Pereira. Chegou na e-capital ainda criança, na companhia de seus pais e dos irmãos Gevaldo, Eurides, Laura, Maria das Dores e Selmira. (continua)

RESUMO: Artigo relembra o artista folião do Carnaval de São Cristóvão Flô, Florisvaldo Costa Pereira, que fazia protesto e homenagens através de suas fantasias.

PALAVRA-CHAVE: Flô - carnaval - São Cristóvão  

 

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O BOM CARANGUEJEIRO

 

Caranguejo FOTO: Copyright (c) 2012 Pedro Bernardo/Shutterstock

Por Thiago Fragata*

Caranguejo “de andada” é fácil pegar! Gabavam-se os meninos. Na ladeira Porto da Banca da minha infância, em São Cristóvão, meados da década de 1980, a gente encontrava os bichos até subindo a ladeira, depois de atravessarem a rua. O fato me deixava confuso, imaginava: porque razão eles deixavam os manguezais para ir atrás das fêmeas na cidade. No caminho a molecada enchia sacos com os crustáceos aventureiros. Nesse período do ano, todo mundo pousava de bom caranguejeiro, entretanto descobri que o critério para justificar essa fama não era a quantidade de cordas ou sacos de caranguejos. Explico: segundo os velhos pescadores que passavam dia jogando conversa enquanto consertavam redes, “bom caranguejeiro” era quem pegava o bicho sem se sujar de lama, desconsiderando a época "da andada". Considerava impossível “tirar caranguejo” do buraco sem chafurdar na lama feito um porco, isso até conhecer Alvinho! (continua)

RESUMO: texto descreve como na juventude Fragata conheceu um garoto que "tirava caranguejo do buraco" sem se sujar de lama.

PALAVRAS-CHAVE: São Cristóvão - caranguejo - memória

 

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CEASE: DESAFIANDO VOCÊ A OUVIR LIVROS (RETROSPECTIVA 2023)

 


Foi durante a pandemia que a ideia amadureceu: um clube de leitura possível. Venho da escola pública e sou professor da rede estadual de ensino de Sergipe, aonde enfrentei impossibilidades de semear coletivos de leitores. A ironia é que foi no tempo de maior adversidade, quando a escola estava fechada e as aulas aconteciam no ambiente virtual/remoto. Quando tínhamos a escola a dificuldade maior era não contar 5 exemplares de uma mesma obra, por outro lado eu recusava xerocopiar livros. Com a pandemia restava a tela do celular, aparelho censurado até então e uma internet limitada para fazer acontecer prática pedagógica.

O Clube de Leitura Live Livro (CLLL) foi fundado no dia 11 de maio de 2021. A perspectiva era explorar leitura digital e/ou audiolivro de clássicos orientando os participantes para um consumo eficiente (compreensão) visando sucesso. O projeto patrocinado pelo canal Poesia com Tempero & Arte Sustentável foi atualizado em março de 2023, recebendo novo nome: Clube de escuta de audiolivros de Sergipe (CEASE). Doravante, o foco é a escuta orientada de audiolivros gratuitos dos clássicos da literatura nacional e estrangeira.

Trabalhar com os clássicos foi a decisão acertada. De largada, não iria desrespeitar direitos autorais incentivando um coletivo a fazer o mesmo uma vez que tratasse de obra de domínio público. O acesso disponível e a gratuidade seja no formato digital (e-book) seja no formato audiolivro (áudio-book) encerravam os percalços.

Embora sinta uma pressão em trabalhar obras da atualidade (os mais lidos) e/ou a literatura sergipana, na posição de mentor do CEASE, insisto nos porquês de selecionar exclusivamente clássicos para o desafio da escuta: 1) clássicos são (deveriam ser) de conhecimento geral/obrigatório visto que foram aclamados pelo cânone e carregam o requinte da produção literária - Você conhece os clássicos da literatura brasileira? 2) todo clássico dialoga com a atualidade, isso caracteriza e o distingue - Exemplo: Frankenstein (1818), de Mary Shelley, apresenta “a questão da ética na ciência” a partir do comportamento inescrupuloso de um cientista. Escutar livros constitui uma metodologia de acesso/conhecimento da literatura que é alternativa a leitura, lembrando que uma não inviabiliza a outra e você precisa desenvolver habilidade nas duas


LIVROS EXPLORADOS NA JORNADA CEASE 2023 - RETROSPECTIVA

1 - Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado / Março
2 - Alice no país das maravilhas (1862), de Lewis Carroll / Março
3 - Sherlock Holmes: um estudo em vermelho (1887), de Arthur Conan Doyle / Abril
4 - A Ilha do Dr. Moreau (1896), de H. G. Hells / Maio
5 - O Guarani (1857), de José de Alencar / Junho
6 - Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift / Julho
7 - A Paixão Segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector / Agosto
8 - Um escândalo na Boemia (1891), de Arthur Conan Doyle / Setembro
9 - O Quinze (1930), de Raquel de Queiroz / Outubro
10 - O menino do dedo verde (1957), de Maurice Druon / Novembro
11 - Venha ver o por-do-sol e outros contos (1987), de Lygia Fagundes Telles / Dezembro

A iniciativa de convidar leitores a uma experiência de escuta da audiolivros parece inocente e sua consumação fácil porém a maioria dos participantes não conseguem reter conteúdo ou o enredo da obra indicada. Isso porque ouvir um livro não se trata de esforço físico mas de aprendizado. A leitura introspectiva e individual hegemônica nas práticas educacionais expõe e acentua a falha que o CEASE promete remediar.

Ficou interessado no DESAFIO CEASE 2024 (ouvir livros)?
Envia email para poesiacomtempero@gmail.com
Segue o perfil @poesia.com.tempero

O projeto CEASE é incentivado através de participação e doações voluntárias pix-solidário para 79991226477 
 
 

ARMINDO PEREIRA: CONTISTA E ROMANCISTA INÉDITO EM SERGIPE

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