Valorizando a cultura, promovendo a preservação*

Detalhe do outdoor de divulgação da campanha Praça São Francisco, Berço de Sergipe, Patrimônio da Humanidade

Por Bruna Morrana dos Santos**

Sabe-se que o Patrimônio Cultural refere-se à cultura de uma sociedade, de um país e deve ser entendido como produto coletivo das realizações da sociedade. Assim, há uma urgência de preservação dos Patrimônios Culturais locais que estão ameaçados, pois como foi dito anteriormente eles representam a identidade cultural de um povo. No entanto, não só os bens culturais materiais devem ser preservados, mas também aqueles referentes às técnicas, ao saber e o saber-fazer, que estão na categoria do patrimônio imaterial.

Nesse contexto, é notória a urgência de preservação do patrimônio local, e sendo assim inserimos a Praça São Francisco localizada no coração do centro histórico da cidade de São Cristóvão-SE. Carregada de representatividade e valores, a praça apresenta um grande valor histórico e além deste, apresenta também grande valor cultural. È importante salientar que a Constituição Federal de 1988, no artigo 216 prega que as manifestações artístico-culturais são representativas para comunidade e assim devem ser também alvos de preservação.

E as festas são com toda evidência parte desse patrimônio, pois é através dessas manifestações que o povo revigora seus valores tradicionais. Mas, retomando o tema da Praça São Francisco, ela é o centro das manifestações culturais populares da cidade, porque é lá que anualmente acontecia o Festival de Artes de São Cristóvão cujo, engloba atividades teatrais, musicais, cinematográficas, além de artes como o circo. No entanto a praça não é somente palco de festivais, mas também é o centro das manifestações carnavalescas e juninas, enfim ali é onde acontece o resgate das tradições.

Mas, não é tão simples assim, muitos sancristovenses vêem a praça apenas como um local de lazer e pra jogar conversa fora, não se dando conta do valor cultural que ela apresenta evidenciado pelas construções arquitetônicas que compõem todo o conjunto da praça. Entretanto, sabemos que o processo de conscientização da sociedade ocorre paulatinamente, ou seja, a intenção seria fomentar no povo uma nova visão e fazer com que a população olhe para a praça com outros olhos.

Portanto, sempre é bom frisar que devemos valorizar os elementos que compõem nossa cultura, e em relação ás manifestações culturais fica mais em foco a discussão sobre como manter a tradição “viva”, pois só assim elas poderão perpetuar pelas gerações futuras.


*Publicado no JORNAL DO DIA. Aracaju, ano V, n. 1414, 29/09/2009, p. 2.
** Graduanda em História da Universidade Federal de Sergipe - Projeto “A Praça São Francisco é do Povo” - DHI (UFS)

A praça e uma candidatura em construção*


Pablo Renan Silva Campos**

No dia 4 de julho de 2009, os alunos da disciplina, Patrimônio Cultural do curso de licenciatura em história da (UFS) Universidade Federal de Sergipe, foram à cidade histórica de São Cristóvão com o objetivo de realizar uma pesquisa de opinião entre os moradores daquela localidade. Estes tiveram o acompanhamento dos professores, Claudefranklin Monteiro, docente da disciplina na instituição e Thiago Fragata que além de cidadão sancristovense é um pesquisador entusiasta e há muito tempo vem engajado no processo de divulgação da diversidade cultural da cidade de São Cristóvão.

Essa pesquisa consiste em saber dos populares seus respectivos modos de ver a candidatura da praça São Francisco à condição de Patrimônio Cultural da Humanidade, a ser concedido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência, Cultura e Comunicação). Só para lembrar, a mesma possui o título de Patrimônio Nacional e em momentos passados, já almejou esse reconhecimento. Contudo, faltaram alguns detalhes determinantes que serão comentados adiante.

Para um bem cultural, como é o caso da Praça São Francisco, ser alvo da salvaguarda e conseqüentemente receba tal reconhecimento, é preciso estar sujeito a alguns critérios, como: manter as características do período ao qual esteve inserido; a cidade deve ser voltada em seu todo para a preservação ambiental e o mais importante que é o valor histórico, artístico, documental e sentimental, ou seja, deve ter uma representatividade para a comunidade e é necessário que a mesma manifeste-se um desejo sobre esse bem.

Analisando esses dados mencionados, nota-se o porquê do título ter sido adiado anteriormente, quando especialistas da UNESCO vieram fazer uma verificação técnica. As alegações deles foram: a falta de saneamento básico e uma questão lamentável que é a poluição do rio Paramopama que chegou a ser alvo de uma reportagem maliciosa do jornalista Pedro Bial da Rede Globo em sua passagem por São Cristóvão, na qual fez uma matéria para o Jornal Nacional.

Bem, mas agora os leitores devem está curiosos e se perguntando: qual foi o resultado da pesquisa? Como é que andam as obras de restauração e de saneamento básico na cidade? Qual o próximo passo a ser seguido? E quando sai o resultado da UNESCO?

Vamos à questão, o resultado da pesquisa não foi animador para nosso grupo que adentrou nesse projeto e se comprometeu a fazer o que estivesse ao seu alcance para ajudar nessa candidatura, que se conquistada será um prêmio e uma condição de satisfação não só para São Cristóvão, mas também, para Sergipe em geral.

Numa reunião, traçamos metas que seriam desenvolvidas e aplicadas passo-a-passo, a primeira delas foi saber como a população pensa a respeito do assunto. Assim, foram elaboradas algumas perguntas e as mesmas aplicadas. Uma delas chamou muito atenção, no momento que perguntávamos: Você sente orgulho em morar aqui?, foi uma surpresa para nós vê que as maiorias das respostas foram NÃO, sendo assim, em primeiro instante ficamos tristes, mais logo depois felizes, isso é paradoxal, vou explicar melhor, claro que nossa vontade era que todos respondessem SIM e com uma justificativa bem sucinta, porém, não ocorreu, então ficamos tristes, mas felizes porque esses mesmos não sabiam justificar e logo diziam A corrupção e a falta de empregos aqui é grande, a princípio chegamos à conclusão de que eles não odeiam a cidade e toda sua carga cultural que ela possui, o problema é que estes não sabem diferenciar o amor a terra natal da revolta que tem em relação aos seus administradores. Contudo, é relevante essa revolta, pois, é só ir verificar as condições em que vivem os cidadãos e o estado em que a cidade se encontra: falta de saneamento, oportunidade de vida e lazer. É isso que faz os moradores transferirem a raiva que sentem pelos políticos para a cidade.

Sobre as condições atuais das obras, estão lentas e mal administradas, como já foi dito em outras passagens. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional), hoje com uma nova superintendência, tenta adiantar as restaurações e a própria prefeitura é encarregada de solucionar outros problemas, como por exemplo, a questão da iluminação pública no centro histórico e nas intermediações do local que deve ser subterrânea. No referente à preservação ambiental, Thiago Fragata junto com seu grupo Comissão de Candidatura e seus alunos executaram um projeto no quais Pneus foram recolhidos do rio Paramopama.

Os próximos passos são a continuidade dessas obras, mas para que elas estejam devidamente prontas no período estabelecido, é de fundamental importância o engajamento de todos, população, IPHAN, administradores locais, instituições estaduais e a Universidade Federal. Esta última foi uma das causas da nossa inclusão nesse projeto. Chegamos à conclusão de que deveríamos dar suporte ao Thiago e também que é dever de uma instituição como a UFS participar desse processo, mesmo porque ela está situada em solo sancristovense.

A decisão será divulgada em julho de 2010, se for positiva os benefícios serão diversos e incalculáveis, não só pelo fator patrimonial, mas também, desenvolvimento que conseqüentemente afetará positivamente a população, como exemplo, o aumento do fluxo de turismo, agora em nível internacional, possibilitando o aumento de renda municipal e a geração de empregos em diversos campos, além disso, a cidade estará dentro dos padrões de preservação ambiental que é um dos temas mais citados e discutidos nas sociedades contemporâneas.

* Artigo publicado no JORNAL DO DIA. Aracaju, ano V, N. 1406, 19/09/2009, p. 4.
**Graduando em História da Universidade Federal de Sergipe Projeto A Praça São Francisco é do Povo (DHI/UFS)

Herança hispânica em Sergipe

Confira o programa (12/09/2009) que tematizou a herança hispânica em Estância e São Cristovão, destacando a candidatura da praça São Francisco a Patrimônio da Humanidade. http://emsergipe.globo.com/multimidia/?id=31472



Tombamento do Cristo Redentor de Sergipe

De acordo com o processo de tombamento do Cristo Redentor de São Cristóvão as torres de telefonia que dividem a paisagem com o monumento terão que ser retiradas. As torres metálicas ferem a legislação de patrimônio e colocam em risco a vida dos apreciadores do primeiro redentor erigido no Brasil.

SABER MAIS:

São Cristóvão x Sancristovenses: a face da população em torno da candidatura da Praça São Francisco*


Por Nayara Santos de Jesus**

São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do Brasil é motivo de orgulho para os cidadãos em geral, já que este fato envolve toda a população sergipana. No entanto, será que o seu mérito é realmente valorizado e reconhecido pela comunidade? E no momento, à luz da candidatura da Praça São Francisco a patrimônio histórico da humanidade, como eles se comportam diante do fato? Participam, envolvem-se com a campanha ou são meros observadores, ocultos à dimensão do projeto?

Após uma pesquisa de campo realizada no município em prol da candidatura da Praça São Francisco e de todo o seu conjunto arquitetônico, foi perceptível o ânimo, empolgação e o conhecimento da população acerca do assunto. Alguns, é claro, conhecem do que se trata o projeto, porém, outros e estes infelizmente sendo maioria, desconhecem o seu real objetivo, sendo isto de fundamental importância, pois, de antemão, deve partir da própria população o espírito de determinação e de interesse, para que após, seja reconhecido mundo afora o valor patrimonial e cultural que representa a cidade, principalmente, o seu centro histórico.

A participação da comunidade é essencial para a concretização deste plano, já que qualquer forma de manifestação para ser absoluta, deve, em primeira mão, partir da iniciativa popular. No entanto, para este quadro ser mudado, programas de educação patrimonial e conscientização devem ser aplicados para toda a população, e não somente aos sancristovenses, como também para a comunidade sergipana e as forças políticas, para que unidos abracem a idéia e defendam seus interesses, no qual todos deverão sair ganhadores, com um mérito bastante gratificante.

Ao se falar em Praça São Francisco, onde acontecem as principais festividades do município, o qual seu conjunto arquitetônico data desde o século XVII, é motivo de orgulho para a sociedade sergipana que esta seja candidata a patrimônio cultural da humanidade, pois, além de trazer riquezas em sua estrutura de pedra e cal, mostra também seu patamar em manifestações culturais, sendo palco das exibições de caráter popular, como o grupo de Reisado, os Caceteiros, Bacamarteiros, entre outros, além do carnaval, do São João e do Festival de Artes Sacras. Um local onde acontecem manifestações culturais unidas a sua beleza patrimonial, qual seja seu conjunto arquitetônico, merecedor de ser nomeado e reconhecido mundialmente.

Com esta candidatura, mais uma vez enfatizando, a participação da comunidade na conservação histórica da praça, e não só dela, mas de todo o município, deve ser efetiva, já que há critérios que devem ser obedecidos para a avaliação, tais como as condições em que a praça se encontra, seu nível de preservação e proteção, entre outros. Esta conservação a cada dia deve ser aplicada, não somente para fins de candidatura, mas pelo grau de valor histórico que a cidade possui, tanto pelo seu patrimônio de pedra e cal quanto pelo imaterial, avaliada graças a sua potencialidade histórica e paisagística, indiscutíveis.

É importante ressaltar que com a candidatura e sua aceitação, por certo, haverá uma nova fase na história da cidade, pois, o incentivo ao turismo ganhará um novo rumo, já que infelizmente, o pólo turístico do município ainda não alcançou o patamar merecido, sendo a população ciente disso. Essa nova fase trará bons resultados, não somente para São Cristóvão, como também para todo o Estado.

Entusiasmo, empenho, compromisso, boa vontade, dedicação: estas são as palavras-chave que o município de São Cristóvão em plena candidatura da Praça São Francisco necessita para que seja digno de receber o mérito de patrimônio cultural da humanidade.


*Artigo publicado no JORNAL DO DIA. Aracaju, ano V, n. 1397
** Graduanda em História da Universidade Federal de Sergipe -Projeto “A Praça São Francisco é do Povo” – DHI (UFS)


Governo do Estado, parabéns!

São Cristóvao, berço de Sergipe, Patrimônio da Humanidade , outdoor

Por Thiago Fragata*

O Governo do Estado está de parabéns pela promoção da Praça São Francisco, candidata ao título de Patrimônio da Humanidade. Em rápidas linhas posso destacar:

a) A organização da Subsecretaria de Estado do Patrimônio Histórico Cultural (SUBPAC) para acompanhar a execução das obras em andamento e mobilizar a sociedade sergipana para a importância da chancela para o desenvolvimento do Estado. A indicação do professor Luis Alberto para gerenciar os trabalhos do SUBPAC deve ser destacada porque ser um profissional competente, com experiência comprovada na área;

b) Licitação de obras, a exemplo do esgotamento sanitário do centro histórico, e aceleração de outras (projeto luminotécnico da praça, duplicação da Rodovia João Bebe-Água, etc);

c) Mobilização da sociedade sergipana na Festa da Emancipação Política, dia 8 de julho, e mais recentemente, dia 28 de agosto, dos grupos folclóricos sancristovenses;

d) A partir da Festa de Independência, dia 7 de setembro, o Governo do Estado através do SUBPAC lançará campanha de promoção do patrimônio cultural de São Cristóvão. Nesse propósito, o desfile cívico que esse ano tematiza o centenário do Hino Nacional e prepara carros alegóricos sobre a influência francesa na cultura brasileira, apresentará ala especial homenageando a cidade histórica. Além das réplicas do patrimônio arquitetônico da Praça São Francisco, personagens da tradicional Procissão do Fogaréu e Paixão de Cristo, Jesus, apóstolos, escribas e a legião romana desfilarão na Avenida Barão de Maruim.

A Comissão Pró-candidatura da Praça São Francisco a Patrimônio da Humanidade apoia o Governo do Estado e todos os parceiros comprometidos na conquista da chancela internacional da UNESCO. "São Cristóvão, berço de Sergipe, Patrimônio da Humanidade", mote da campanha, são palavras do governador Marcelo Deda.

*Coordenador da Comissão Pró-candidatura da Praça São Francisco a Patrimônio da Humanidade. E-mail: thiagofragata@gmail.com

SABER MAIS: http://www.correiodesergipe.com/lernoticia.php?noticia=33992

Contradições do povo da praça*


Pedro Carvalho de Oliveira**

Se um bem cultural é uma representação das expressões que distinguem, caracterizam e identificam particularidades de um povo, é imprescindível que este povo esteja consciente da importância de preservar este bem patrimonial para que sua essência se mantenha viva, permitindo assim, que as próximas gerações apreciem e dêem continuidade a ele.

Uma vez que o patrimônio cultural possui todas estas qualidades, nada mais justo do que o povo ser o elemento chave para a configuração de um interesse acerca de sua preservação, sendo a iniciativa e a vontade popular de grande importância.

A Praça São Francisco e o seu entorno de edificações, localizados no Centro Histórico de São Cristóvão, é um conjunto de bens patrimoniais que demonstram com clareza uma parte significativa da identidade do povo sergipano e de sua história.

Desde 2004, concorre ao título de patrimônio cultural da humanidade, tendo todo este processo sido iniciado ainda em 2007, quando uma equipe da UNESCO compareceu ao local, aceitando a pré-candidatura da praça. Para que a praça consiga o título, é necessário que algumas medidas sejam tomadas visando o que alguns critérios fundamentais para a escolha exigem, estando entre elas os cuidados com a cidade – saneamento básico, cuidados ambientais, etc. -, a importância cultural e a participação da população no interesse da preservação. Nada mais justo, uma vez que não se pode conceber a idéia de patrimônio cultural sem a participação e o interesse do povo.

Mas como anda a opinião do povo de São Cristóvão acerca desta situação? Muito otimista, no âmbito geral, segundo o que pôde ser observado numa pesquisa de opinião realizada no dia 04 de Julho deste ano, para o projeto “A Praça São Francisco é do Povo”, orientado pelo professor Claudefranklin Monteiro Santos, da qual participei junto a outros colegas do curso de História da Universidade Federal de Sergipe. Porém, a opinião confusa e contraditória de algumas das pessoas – moradores do centro histórico de São Cristóvão – que foram entrevistadas por nós sobre este assunto deve ser levada em conta para compreendermos a visão destes como um todo.

A auto-estima de boa parte do povo de São Cristóvão se encontra muito baixa, como já fora constada em artigo aqui publicado pelo colega Felipe Paiva. A idéia de que a eleição da praça pode ser algo conquistado não parece algo concebível para uma parcela dos moradores do centro histórico, principalmente pelo fato de eles ainda pensarem São Cristóvão como uma cidade do menor estado do país, e que não sai da sombra da capital Aracaju – local para onde a maioria dos moradores da cidade vai a trabalho.

Não se trata, obviamente, de uma opinião geral, mas do pensamento de um fragmento da população entrevistada e que me despertou curiosidade pela seguinte razão: embora esta parcela do povo são-cristovense esteja com sua auto-estima abalada quanto a considerar a possibilidade de um notório feito para a cidade, integrando-se a uma lista mundial e de proporções gigantescas que é a dos Patrimônios da Humanidade, elas possuem um sentimento de orgulho muito grande para com a cidade, muitos, inclusive, em razão de uma consciência histórica, entendem que a importância de São Cristóvão para o enredo do Brasil não é algo pequeno. Esta consciência revela o interesse do povo quanto ao conteúdo histórico da cidade, e mesmo que alguns deles digam que somente sentem orgulho da cidade por terem nascido lá, isso nos revela que a baixa auto-estima desta parte do povo não é capaz de abalar a firmeza com a qual dizem que se orgulham de serem são-cristovenses.

É interessante observarmos que muito do que ficamos sabendo – a equipe de pesquisa da qual participei – a respeito desta falta de confiança por parte destes específicos moradores do centro de São Cristóvão se deu distante dos questionamentos padrões dos formulários que recebemos e que deveriam ser preenchidos com a opinião do povo. Muitas destas pessoas, após as perguntas, nos revelavam esta incerteza pessimista como se estivessem desabafando algo, dando a impressão de que tiravam do peito algo pesado. As conversas informais que tivemos com o povo da cidade nos permitiu conhecer o quanto este povo desejava que o título fosse conquistado pela praça, mesmo isto estando aos olhos deles como um sonho distante. Os olhos que apontavam para Sergipe, segundo alguns deles, só enxergavam Aracaju. Ainda assim, em todo momento estes moradores específicos nos mostravam um conhecimento formidável quanto ao aparato patrimonial da cidade, de sua notória carga histórica e, até mesmo, de um conhecimento nem um pouco superficial quanto à candidatura da praça. Mesmo com este certo pessimismo, estas pessoas não admitiam que se falasse mal de São Cristóvão, e na gigantesca maioria dos casos, quando perguntavam se sentiam orgulho da cidade, respondiam com um “Sim!” imediato e seguro, justificando que ou a cidade tinha importância demais para não se sentir orgulho ou simplesmente por terem nascido lá.

Embora contraditória e bastante confusa, a opinião desses são-cristovenses nos permite concluir alguns pontos. Por exemplo, podemos saber que este orgulho do povo pode sim ultrapassar a baixa auto-estima, transbordando numa movimentação que daria um passo significativo na participação popular quanto à candidatura da praça. Podemos ver também que este pessimismo não se mostra tão rigoroso quanto o orgulho das pessoas, podendo ser facilmente desmantelado no primeiro sinal de que São Cristóvão poderá, desta vez, alcançar um feito há muito merecido, feito este que a cidade poderá partilhar com seus elementos mais importantes: seus habitantes. Talvez a ida de alguns universitários, guiados por um projeto que deverá revelar ao povo o quão próxima esta conquista pode estar, possa ter sido mais uma forma de o povo perceber que São Cristóvão é mais importante do que alguns podem pensar.


* Artigo publicado no JORNAL DO DIA. Aracaju, ano V, n. 1392, 4 de setembro de 2009, p. 4.
** Graduando em História da Universidade Federal de Sergipe (Projeto “A Praça São Francisco é do Povo” – DHI/UFS)

ARMINDO PEREIRA: CONTISTA E ROMANCISTA INÉDITO EM SERGIPE

POR GILFRANCISCO* - gilfrancisco.santos@gmail.com Ficcionista sergipano, Armindo Pereira (1922-2001) nasceu com a literatura nas veias, vá...