O dia 20 de novembro é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, com a comemoração do Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte do grande herói Zumbi dos Palmares, em 1695. É um dia de festa para as comunidades e grupos que defendem sua raça e buscam por condições de igualdade étnica.
Neste contexto, a Secretaria de Estado da Cultura (SECULT), por meio do Museu Histórico de Sergipe - localizado na Praça São Francisco, Patrimônio sergipano da Humanidade, em São Cristóvão - elaborou uma programação especial para reunir e celebrar a contribuição africana na construção da realidade brasileira. Intitulado de Círculo dos Ogãs: africanidade e resistência em São Cristóvão, o evento reuniu diversos grupos dos mais variados terreiros da cidade histórica, com o objetivo de dialogar e gerar um intercâmbio de informações e conhecimento, a fim de discutir sobre direitos e cidadania do povo de santo.
A comemoração foi realizada pela SECULT, por meio do Museu Histórico de Sergipe (MHS), em parceria com Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-SE) e Prefeitura Municipal de São Cristóvão (PMSC). O secretário adjunto da Cultura, Marcelo Rangel, prestigiou o evento e se mostrou entusiasmado com o número de pessoas que fizeram parte da programação. Segundo ele, o momento foi de fundamental importância, pois promoveu uma visita dos grupos afro descendentes ao centro histórico de São Cristóvão, uma vez que poucos deles tem o costume de fazê-lo.
Este é um muito momento importante. É a primeira vez que se faz uma reunião de todos os terreiros de São Cristóvão, uma cidade que é essencialmente católica, mas que tem uma diversidade cultural enorme e com as comunidades de terreiros muito fortes. Então, trazê-las a esta Praça, que poucos deles tem o costume de visitar, para celebrar a africanidade no Dia da Consciência Negra, além de falar sobre cidadania e discutir seus projetos, como foi feito durante toda a tarde de hoje é, sem dúvida, uma honra e um presente para todos nós. Este é um empenho da SECULT em parceria com o Museu Histórico, que cria oportunidades de fazer eventos nesta Praça que não é mais patrimônio apenas de Sergipe, e sim do mundo, ressaltou Rangel.
comunidades de terreiros entoaram saudações nagô, keto e angola.
Foto: Marcelle Cristinne
O diretor do Museu Histórico de Sergipe, Thiago Fragata, comemorou o sucesso do Círculo de Ogãs e defendeu que atual gestão do MHS tem buscado adaptar o museu não só para visitação, mas também em prol da comunidade que o cerca. A gestão do Museu Histórico entende museu não só como casa de visitação, e sim uma casa preocupada muito além da visita externa, preocupada com o local em que o museu está situado, que é a cidade de São Cristóvão. Então, buscamos sempre promover ações voltadas para o turismo no museu, mas também uma tônica de cidadania. Dessa forma, criamos este projeto e convidamos os terreiros de São Cristóvão, para comemorar o Dia da Consciência Negra, onde cada um pudesse se manifestar nesta praça que hoje é Patrimônio da Humanidade, disse Fragata.
Já a secretária de Cultura do município, Aglaé Fontes, afirma que o evento foi uma oportunidade, pois reuniu grupos afrodescendentes de vários povoados a fim de discutir temas relacionados à sua cultura. A prefeitura de São Cristóvão deu apoio total ao MHS, pois entende a necessidade de atividades como estas em nossa cidade. O projeto foi uma ótima idéia, afinal quando as instituições se unem, as iniciativas se tornam ainda maiores. Acredito que este evento abre uma porta para outros encontros e outros estudos sobre a africanidade, de modo que poderemos passar assim, a respeitar ainda mais os afrodescendentes, destacou a secretária.
Programação
A programação foi cuidadosamente preparada para abarcar todas as classes e grupos religiosos do município e se estendeu por todo o dia, iniciando ainda durante a manhã com uma missa ecumênica na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, referência sincrética localizada no centro histórico. Durante o culto, o templo foi destacado como herança do trabalho e religiosidade africana colonial.
No período da tarde, a programação contou com palestras, exposição e confraternização das comunidades de terreiros na Praça São Francisco, através de um ato de união e respeito a essas comunidades, formando-se um grande círculo de tambores na Praça, entoados por cânticos africanos e rodas de capoeira. O coordenador de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, Pedro Neto, defendeu que o momento é especial, pois promove o intercâmbio de informações para as comunidades de terreiros de Sergipe.
Este é sem dúvida um momento muito especial, e nossa expectativa é que eventos como este tenham continuidade. Esta foi, sem dúvida, uma idéia muito boa do Governo do Estado, por meio da SECULT, em estar produzindo uma programação voltada para o Dia da Consciência Negra, com uma celebração ecumênica tão linda como foi a que ocorreu pela manhã, e em uma igreja que conta grande parte da história dos negros na cidade de São Cristóvão. Isso é muito importante, pois está mexendo com informação, e quando ela chega às pessoas, podem ajudá-las a construir sua cidadania, complementou Pedro Neto.
Foto: Marcelle Cristinne
O representante da Universidade Federal de Sergipe e da Sociedade "Omolàiyé” no evento, Marta Sales, comemorou a iniciativa e defendeu a realização de muitos outros projetos como estes. Este é um momento muito importante e é muito bom estar aqui, afinal, oportunidades como esta, são raras e são em eventos como este que conhecemos as atividades realizadas pelo povo de Sergipe. Estou muito feliz com esta bela iniciativa da SECULT e das demais entidades aqui presentes, disse Marta.
Outro convidado que estava muito contente com a realização do Círculo de Ogãs foi o promotor de Justiça dos Direitos da Educação, Fausto Valois. Segundo ele, o projeto cumpre o papel de discutir formas de cidadania com os grupos de terreiros, e que outros passos devem ser dados, como por exemplo, a inserção de debates reforçados sobre consciência negra nas escolas. Esta é uma iniciativa muito valorosa, pois reúne o povo dos terreiros de São Cristóvão. Achei maravilhoso participar do evento, e acredito que os debates do povo afrodescendente sejam feitos não somente no dia 20, mas principalmente no dia-a-dia das escolas, desenvolvendo e multiplicado nos centros educacionais públicos e particulares, para que a sociedade lembre e valorize a diversidade étnica brasileira, completou.
Thiago Fragata, diretor do MHS, fala da Exposição Temporária Arte in África
Foto: Marcelle Cristinne
A exposição Arte in África “já está se locomovendo desde o ano 2000, e é a primeira vez que vem a um museu, em Sergipe. São peças ímpares, de uma coleção que foi coletada com muita garra. Tive o prazer de conviver na áfrica e conviver com várias etnias de vários países, isso em um período de 15 anos, que foi o tempo que tive para escolher essas peças primorosas e que realmente contam um pouco da história do povo africano. Dessa forma acredito que abrir esta exposição, no dia em que comemoramos a Consciência Negra, tem um significado ainda maior, pois este é um local que está tendo grande movimentação turística e estamos aqui para mostrar essa coleção que não foi feita para mim e sim para o mundo”, garantiu Guga Viana.
FONTE:
http://www.jusbrasil.com.br/politica/6289872/secult-comemora-o-dia-da-consciencia-negra
SABER MAIS:
http://www.divirta.se.gov.br/noticias/mhs-realiza-evento-em-celebracao-ao-dia-da-consciencia-negra
http://porsaocristovao.blogspot.com/2010/11/circulo-dos-ogas-sao-cristovao-comemora.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário sobre essa matéria.