Recebo a Honra do Mérito Aperipê, comenda concedido pelo Governo do Estado aos que contribuíram com o fomento da cultura sergipana, com muita alegria, serenidade e humanidade. Alegria, por saber que as ações engajadas para o reconhecimento da Praça São Francisco, de São Cristóvão, a Patrimônio da Humanidade, a frente do Comitê Pró-candidatura, deixaram uma marca na memória, marca representada neste metal tão cheio de significados para mim e para o Governador Marcelo Deda Chagas, que no dia 2 de agosto do ano passado, dia seguinte a decisão da UNESCO, declarou que iria homenagear Thiago Fragata pela relevancia de sua atuação em todo o processo de divulgação e orientação, inclusive dialogando com a equipe do seu Governo.
Serenidade porque sou consciente que a chancela foi concedida para São Cristóvão, ex-capital do Estado, e afamada quarta cidade mais antiga do Brasil, não pelo fato dela ter superado, resolvido seus problemas de infra-estrutura, de gerenciamento da coisa pública, enfim, suas mazelas tão achincalhada e até festejada por um seguimento da imprensa e oposição. A chancela foi concedida por conta do potencial inquestionável do seu acervo arquitetônico e do valor agregado das manifestações da cultura popular, da religiosidade, dos carnavais e de tantas atrações que sempre tiveram e precisam continuar tendo a Praça São Francisco como cenário. Aliás, esta praça não pode agora ser transformada em presépio, algo apenas para ser contemplado!
Humanidade, porque preciso por um senso de justiça compartilhar o mérito com meus companheiros de luta. Quem mim conhece sabe que sou um sergipano otimista, que mobilizo mas não realizo nada sozinho, não sou de ficar reclamando nos bancos de praças disso ou daquilo; como diz a canção do Geraldo Vandré "quem sabe faz a hora!" Então, para mim a melhor hora é agora e com os parceiros. Não posso esquecer que desde que assumir a coordenação do Comitê pró-candidatura da Praça São Francisco a Patrimônio da Humanidade, em 14 de fevereiro de 2008, contei com o apoio de Marco Galvão e Vera Galvão, do ex-deputado e amigo Professor Wanderlê, da Secretária de Cultura do Estado, Eloisa Galdino, do seu adjunto Marcelo Rangel, do ex-Deputado Iran Barbosa, de Marcos Santana, Everaldo Pinto Fontes, o popular Gaspeu; das marias da poesia, Maria Rita e Maria Glória; do poeta Manoel Ferreira, do professor Sergio Lima, da Ong Sociedade para o Avanço Humano e Desenvolvimento Ecosófico; de Maristela Thomaz, do Centro de Desenvolvimento Sustentável Oxogum Ladê; de Cleverton Costa Silva, Pitágoras Moura de Andrade, Adevanilson Castor, Robervan Santana, Vera Lucia dos Santos, Gladston Barroso, Sócrates Prado, Eliene Marcelo Santos, de Maira Ielena Cerqueira da Graça e Vania Dias Correia, da SubSecretaria de Patrimônio Cultural (SUBPAC); de Klekstane Silva, Marcia Arévalo e Terezinha Alves de Oliva, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); de Claudefranklin Monteiro e Josué Modesto dos Passus Sobrinho, respectivamente, professor do Departamento de História e reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS); de Rosangela Reis, Neverton Cruz, Wesley Barbosa, Murilo e Osvaldina Paiva Muniz, do Museu Histórico de Sergipe; de Aglaé Fontes, Secretária de Cultura de São Cristóvão e mais tantos amigos e amigas.
E como não posso esquecer a sergipanidade nesta data, 8 de julho, alusiva a Emancipação política de Sergipe da Bahia, gostaria de repetir a minha concepção sobre o conceito. Pra mim, sergipanidade é um sentimento não apenas de pertença, de nascimento ou residência. É um sentimento de afetuosidade, bem-estar, querer-ficar, amor, nostalgia até! Assim, nem todo sergipano alcançou a sergipanidade, quem sabe conhecer a primeira capital de Sergipe seja um bom começo. Um bom começo...
Por outro lado, tem baianos, pernambucanos, cariocas, paulistas, enfim, brasileiros nascidos em outros Estados e até outros países, que se revelam entusiasticamente sergipanos; porque? Porque eles desenvolveram a tal sergipanidade.
Agora que temos oficialmente um lugar sergipano reconhecido Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, gostaria de concitar a todos os presentes a convidar o mundo (o seu mundo!) a visitar Sergipe; fazer uma visita a São Cristóvão, Laranjeiras, enfim, realizar um circuito histórico; depois um outro pelo sertão de Gloria, Monte Alegre, Poço Redondo, Canindé; não podemos esquecer Itabaiana, Lagarto, nem Estância, pensando bem, como Sergipe é o menor Estado da Federação, dá pra conhecer os 75 municípios em algumas semanas. Assim, estaremos semeando sergipanidade.
Voltando ao reconhecimento que justificou a concessão de tão importante título para a minha vida, minha carreira, minha cidadania, gostaria de agradecer agora aos incentivadores e entusiastas do meu papel de historiador, embora sem livros publicados ainda; de agente cultural ativo na cena sancristovense, desde novembro de 2009, na direção do Museu Histórico de Sergipe, instituição da Secretaria de Cultura do Estado, que tem sido muito mais do que uma casa de visita. Aos tantos cumprimentos carinhosos que tenho recebido nos últimos tempos, enfatizo que minha atuação não teve, não tem pretensão eleitoral; o que fiz e faço é meu papel de agente cultural e especialmente o que considero dever de um cidadão que vivendo no seu lugar, anseia por transformá-lo no melhor do mundo. Bom, contribuir para transformar a Praça São Francisco em Patrimônio Mundial foi o primeiro passo. Peço ajuda de todos na caminhada que é longa e penosa, com a licença da poética de Carlos Drummond de Andrade “com muitas pedras no meio do caminho”, contrapondo-se a tantas agruras e algumas manchetes capciosas da imprensa, arremato com um verso do mesmo poeta “não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.
Inspiração poética, é isso que esta cidade despertou neste historiador. Para finalizar, então, deixo aqui três poesias que tematizam a Praça São Francisco, elas são parte de um catálogo sentimental.
CICERONE DE SÃO CRISTÓVÃO
Tenho repetido a saudação de cicerone
aos novos e velhos amigos e desconhecidos
São Cristóvão, São Cristóvão
Cidade minha, metáfora de todos
Esfinge de quatro séculos
A lançar enigmas imemoriais
Aos professores, turistas, pesquisadores...
São Cristóvão, São Cristóvão
Quem não a conhece repete o erro do convertido
Que não vai a Meca depois de aceitar Alá.
Pra mim sempre Patrimônio da Humanidade
Tempo e templos para debulhar um terço da vida
São Cristóvão, São Cristóvão
Tenho encenado Gonçalves Dias
“Todos cantam a sua terra,
também vou cantar a minha”
São Cristóvão, São Cristóvão
Lembro o conselho de Leon Tolstoi
“Queres ser universal, canta sua aldeia...”
Ah! São Cristóvão...
Tenho repetido a saudação de cicerone
aos novos e velhos amigos e desconhecidos.
(2006)
...
SÃO CRISTÓVÃO, CIDADE-POESIA
Um poeta só é muito pouco
Muito pouco, muito pouco
Porque na cidade tudo é poesia
Todo dia, todo dia
De mim, não sei o que seria
Sem ela para decorar a vida
Janela para o jardim...
Um poeta só é muito pouco
Vai se perder nos versos
Tropeçar nas rimas, ou não!
Eis que surge a menina
Na praça, na rua da esquina
É tão bonita que completa a paisagem
Também ama São Cristóvão quatricentenária.
Um poeta só é muito pouco
Agora são dois: poeta e musa
Ah! Musa lembra museu
Lugar mágico, de poesia e música
Fazer todo mundo dançar
No chão da praça São Francisco
E tudo acaba no bar.
Um poeta só é muito pouco
Por isso vai convidar Maria Glória
Maria Rita, Manoel Ferreira e João Rosa
Para fazer o jogral Patrimônio da Humanidade
E recitar bem alto para o mundo
São Cristóvão, cidade-poesia
(2010)
...
PRAÇA SÃO FRANCISCO DAS LEMBRANÇAS
Praça São Francisco das lembranças
O batismo foi na igreja,
Primeiro beijo aconteceu ali, no banco da praça
Atrás da arvore ou na frente?
Tem um cruzeiro que abençoa todos.
Praça São Francisco das lembranças
Não havia calçamento, era só terra e mato
Que virava lama com a chuva
Era menino e brincava de manja e pelada
Quando não tinha o reisado para entreter
nem o chefe do quarteirão para perseguir.
Praça São Francisco das lembranças
Era na praça a quermesse...
Era na praça o namoro...
Quase tudo acontecia na praça.
Agora ela é Patrimônio da Humanidade.
Assim seja!
(2010)
Thiago Fragata
São Cristóvão, 8 de julho de 2011
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