São Cristóvão, em Sergipe, afamada quarta cidade mais antiga do Brasil, vive a expectativa de ser consagrada Patrimônio da Humanidade. A possibilidade foi confirmada recentemente pela Unesco. A Proposição de Inscrição da Praça São Francisco em São Cristóvão na Lista do Patrimônio Mundial foi elaborada mediante supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), patrocínio do Governo do Estado de Sergipe, através da Secretária de Infra-Estrutura, e apoio da Prefeitura Municipal de São Cristóvão (PMSC). Alguns intelectuais contribuíram na concepção do trabalho com textos específicos sobre variados aspectos da cidade histórica.
O presente artigo pretende informar a respeito do pleito e conteúdo da proposição. Antes de resenhar os textos que compõem a obra, convém salientar o excelente levantamento cartográfico nele apresentado. Mapas dos séculos XVII, XVIII e XIX permitem vislumbrar a posição, a toponímia e as mudanças da cidade. Uma linha do tempo combina a efeméride sancristovense e o inventário dos bens imóveis. Belas fotos da década de 1940 do casario e templos religiosos fazem paralelo com tomadas recentes, inclusive, aéreas.
O primeiro artigo, “A cidade de São Cristóvão na formação histórica sergipana: da colônia aos dias atuais” é assinado por Maria Thétis Nunes. Nele a trajetória da conquista territorial, a colonização e a urbanização da cidade foram pormenorizadas, com ênfase nos principais lances da vida política sergipana que tiveram o cenário da ex-capital.
A “Evolução urbana de São Cristóvão: análise da evolução morfológica do espaço urbano” tem autoria de José Leme Galvão Junior. Apresenta 8 momentos da evolução urbana da cidade tendo como referência o Plano Urbanístico elaborado pelo Prof. Américo Simas, em 1979. Deixa patente que a fundação (1590-1606), a Mudança da Capital (1855) e a chegada da via férrea (1912) foram os momentos de maior transformação do cenário urbano, tanto na cidade-alta quanto na cidade-baixa.
Intitulado “São Cristóvão: urbanismo e arquitetura”, o artigo de Augusto Silva Teles trata da constituição da trama urbana do centro histórico, mostrando a arquitetura dos templos religiosos, praças e dos prédios civis. Interpreta as praças da Matriz, do Carmo e a São Francisco - objeto da candidatura de São Cristóvão - enquanto logradouros formadores do núcleo histórico. Faz análise substancial da Praça São Francisco desvelando seu valor cultural e justificando sua inscrição na lista dos bens culturais do Patrimônio Mundial, nas categorias II e IV.
O Professor Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, por sua vez, assina o texto “Convento de Santa Cruz e a Igreja Conventual: a presença franciscana”. Esclarece que a obra autorizada pelo Capitulo Provincial em 1657 demorou mais de um século para ganhar o formato atual em razão da pobreza do lugar e da ordem religiosa. Seu relato abrange todas as dependências do majestoso convento, destacando ícones e esculturas da sacristia, claustro, altares, retábulos, etc. Atenta que o templo é único no Brasil em que a Ordem Terceira (onde funciona o Museu de Arte Sacra) é perpendicular ao convento.
“Louvor, tradição e fé: História e cotidiano da Praça Francisco” tem marca de José Thiago da Silva Filho (Thiago Fragata). Rememora lances e personagens enredados no aludido cenário. Apresenta a praça que fundamenta o pleito internacional enquanto espaço de festas, de religião e lazer. Endossando parecer de Eurico Amado o historiador assinala que “a Praça São Francisco é, com certeza, o mais belo e harmonioso conjunto arquitetônico colonial do Brasil. Nela o visitante tem a impressão de estar integrado num longínquo instante da História, convivendo com as primeiras raízes da nacionalidade”.
A Professora Aglaé D’Ávila Fontes apresenta “São Cristóvão: aspectos culturais”. Mostra que a religiosidade do cenário, representada nas igrejas e diversas irmandades de outrora, é o fulcro das manifestações populares de louvor e alegria, como as procissões e o folclore. Dentre os festejos trata do Carnaval, do São João, da Seresta e do Festival de Arte de São Cristóvão. Explana sobre o artesanato nas suas diversas categorias: cestaria, escultura, artes plásticas, culinária, ponto-de-cruz, etc
No último artigo, Edinaldo Batista dos Santos traça “A Paisagem e o Homem: aspectos sócio-ambientais”. Embasado em números do Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE), o autor discute o saneamento ambiental e as potencialidades naturais da cidade, o que amplia sua vocação para o turismo. Sobre os recursos hídricos, informa que as bacias do rio Sergipe e do Vazabarris banham a cidade, e que maior parte dos problemas da qualidade de vida da população tem relação com a água.
A Convenção Internacional sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, criada na 17ª. Conferência Geral da Unesco em 1972, organiza a eleição e lista do patrimônio mundial. Seu objetivo é desenvolver ações para guarda e proteção de bens culturais ou naturais que tenham importância universal excepcional.
De acordo com o tramite burocrático, São Cristóvão recebeu visita da comissão do ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), ocorrida em julho de 2007, que avaliou o potencial da Praça São Francisco, principal conjunto arquitetônico e objeto da inscrição. O parecer emitido influirá no resultado do pleito. A exemplo de Ouro Preto, Olinda, Salvador e Goiás, foi ressaltado que São Cristóvão reúne potencialidades indiscutíveis para merecer a unanimidade dos jurados. O patrimônio cultural dos sergipanos, orgulho de João Bebe-Água, merecemerece o reconhecimento internacional.
Thiago Fragata - Co-autor da Proposição e coordenador da Comissão Pró-Candidatura da Praça São Francisco de São Cristóvão na lista de Patrimônio da Humanidade; Pós-graduando em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Professor da Rede Estadual de Educação (SEED-SE) e sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS). E-mail: thiagofragata@gmail.com
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