Por Rafael Ferreira
Muito se fala sobre as cidades históricas do Brasil e seus reconhecidos patrimônios, contudo ao iniciar minha pesquisa sobre Arquitetura Histórica, percebi que as informações disponíveis sobre o assunto geralmente ficam restritas aos municípios com mais visibilidade na mídia e no setor de turismo como por exemplo as cidades de Salvador, Ouro Preto, Olinda, Tiradentes, Rio de Janeiro, São Luís e outras mais, que com todo mérito merecem seus lugares de destaque pela grande importância histórica e cultural que representam.
Porém a riqueza cultural do Brasil, que teve em seu processo de colonização o comando de diversas nações européias, não ficou restrita apenas as principais capitais e antigas vilas, hoje cidades desenvolvidas e estruturadas. Embora o país tenha sido por bastante tempo uma colônia de exploração, isso não impediu que as realezas da época construíssem verdadeiras pérolas arquitetônicas ao longo de toda a nação.
Inicio assim minha primeira matéria na Revista Destino Brasil com São Cristóvão, uma pequena cidade de 72.000 habitantes que um dia foi a capital do atual estado de Sergipe, além de ser a quarta cidade mais antiga do Brasil. A antiga vila perdeu o posto de capital em 17 de Março de 1855, quando o então Presidente da Província, Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a capital para Aracajú.
Fundada por Cristóvão de Barros em 1º de janeiro de 1590 e localizada a apenas 23Km de Aracajú, atual capital do estado, São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe e recebeu seu nome em homenagem a Cristóvão de Moura, representante do rei da Espanha em Portugal. A então chamada região do arraial de São Cristóvão, sede da capitania de Sergipe D' El-Rei tornou-se na época um importante pólo de criação de gado e de cana-de-açúcar, justificando assim a grande presença de praças, casarios e igrejas históricas nas construções locais e assegurando a cidade a posição de centro inicial da colonização e organização da Capitania de Sergipe.
Em janeiro de 1575, os jesuítas iniciavam suas missões em solo sergipano, atravessando o Rio Real, fazendo contatos com as tribos indígenas em suas aldeias. A Catequese não teve efeitos duradouros, mas os jesuítas ocuparam glebas de terra e nelas instalaram seus colégios, residências, igrejas e capelas, num roteiro de fé que ia de São Cristóvão a Laranjeiras.
Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional desde 1939, São Cristóvão desenvolveu-se de acordo com o modelo urbano português, que tinha a característica de dividir as cidades em dois planos que seriam eles: A cidade alta com sede do poder civil e religioso, e a cidade baixa com o porto, fábricas e população de baixa renda.
Além de preservar um conjunto arquitetônico de grande beleza, datado dos séculos XVII e XVIII, a cidade guarda um fantástico patrimônio de arte sacra, considerado a terceira mais importante coleção do Brasil em número e qualidade de peças, que estão expostas no Museu de Arte Sacra local.
A maioria dos monumentos históricos de São Cristóvão está concentrada nas três praças principais, todas elas localizadas no centro histórico.
Na Praça de São Francisco destacam-se o conjunto arquitetônico da Igreja e do Convento São Francisco, datada de 1693, onde funciona o Museu de Arte Sacra; a Santa Casa da Misericórdia, belo conjunto barroco construído no século XVII e o Museu Histórico, instalado no antigo Palácio Provincial, do século XIX, que serviu de residência para o Imperador Pedro II quando visitou a cidade, em 1860. Na ala esquerda do convento funciona o Museu de Arte Sacra, inaugurado em 1974, por iniciativa da Arquidiocese de Sergipe. O Convento São Francisco, também conhecido como o antigo Convento de Santa Cruz, é considerado um dos mais belos monumentos de Sergipe, em estilo barroco, a construção do conjunto iniciou-se em 1693, através de doações da população local, aos padres franciscanos.
Na Praça da Matriz encontra-se a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória, o mais antigo monumento tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional em Sergipe, que foi construída em 1608. É nessa praça também que estão atualmente os principais órgãos da Prefeitura Municipal, todos sediados em lindas construções históricas. A igreja foi edificada pelos padres jesuítas, época em que o Brasil estava sob domínio espanhol e por ordem de Felipe da Espanha, a igreja foi a sede do episcopado.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e o Conjunto do Carmo, que compreende a igreja, o convento e a Ordem Terceira são também grandes representantes do acervo arquitetônico histórico do município. A igreja foi construída pelos jesuítas no século XVIII e atualmente o prédio pertence à Congregação das Irmãs Beneditinas Contemplativas e é um monumento tombado pelo IPHAN.
Logo na entrada da cidade, distante de 2 km do centro histórico, encontra-se o Cristo Redentor, que foi erguido em 1924 sobre as bases da antiga capela de São Gonçalo, construída no século XVI e considerada a primeira igreja da cidade construída em 1599 pelos jesuítas da Companhia de Jesus. De autoria do arquiteto italiano Belando Beladini, o monumento em concreto armado tem 16 m de altura sendo 6 metros de corpo e 10 metros de base.
Na Praça do Carmo temos também o Mosteiro de São Bento, antiga Igreja Conventual, edificada no século XVIII por Frei Antônio da Santa Eufrásia Barbosa, em estilo barroco conta com um frontão, com rica decoração em pedra calcária, ostentando o escudo da ordem carmelita. Originalmente a igreja possuía 6 altares com retábulo do século XVIII em talha dourada, atualmente a sua decoração interna conserva apenas um retábulo, cujo altar é de construção posterior ao neoclássico e dois púlpitos incompletos em cantaria.
Com todos essas riquezas culturais através de seu acervo arquitetônico, cultural e religioso, a cidade está atualmente em processo de tombamento para ser considerada patrimônio da humanidade pela UNESCO.
Durante a 32ª Sessão do Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco realizada de 02 a 10 de julho na cidade de Quebec no Canadá, São Cristóvão foi destaque, estando presente na pauta da votação para integrar a Lista de Patrimônio Mundial a Praça de São Francisco.
A delegação espanhola apresentou ao Comitê o valor do sítio histórico de São Cristóvão como resultado das ordenações filipinas e portanto, espanholas, em terras de domínio português, demonstrando que é um exemplo material único do momento histórico em que Portugal e Espanha estiveram unidos em sob uma mesma coroa. É assim reconhecido na arquitetura colonial a beleza da história preservada.
Assim como Ouro Preto, Olinda, São Miguel das Missões, Salvador, Congonhas, Diamantina, Goiás, São Luís e Brasília já conquistaram seu reconhecimento nacional e mundial pelos seus patrimônios e acervos da arquitetura histórica, São Cristóvão irá em breve se integrar a essa tão importante listagem.
No momento já existem delegações e um cicerone, o historiador Thiago Fragata, que estão trabalhando junto às autoridades locais para que São Cristóvão sane algumas pendências que foram indicadas na última sessão do comitê, e que acabaram por não permitir, no momento, a inclusão do patrimônio na lista das cidades com acervos considerados patrimônios da humanidade pela UNESCO.
Sempre de parabéns! Ei, dei início a uma série de futuros seguidores do seu blog,primeiríssima!!!
ResponderExcluirAna Molina
Ótima matéria! Thiago Fragata, eu estou fazendo um relatório sobre a cultura de São Cristóvão e seu blog me ajudou bastante. Irei colocar alguns trechos dessa e de outras matérias em meu relatório. Mas, não se preocupe com o plágio, eu citarei seu blog e o enderço nas referências bibliográficas. Obrigada! Abraços.
ResponderExcluirNadine.