
JORNAL DA CIDADE – O que credencia a praça São Francisco a ser Patrimônio da Humanidade?
LUIZ ALBERTO SANTOS - A província de Sergipe surge a partir de uma grande luta de resistência entre os povos indígenas que aqui viviam, em relação ao colonizador português em 1590. O final do século XVI e início do século XVII é um momento ímpar de nossa história, pois os reinos de Portugal e Espanha estão sob a égide do rei Felipe da Espanha que através das ordenações chamadas filipinas estabelece como devem ser as praças e cidades dentro dessa visão espanhola, a praça São Francisco surge neste momento refletindo uma concepção de cidade que tem na praça e na cruz, símbolo maior do cristianismo, o marco zero a partir do qual a cidade vai crescer.
JC – Por que não a cidade de São Cristóvão?
LAS - Essa questão desde o início nos incomodava e nos incomoda. No entanto, quando da discussão com a missão da Unesco, órgão que chancela o “Patrimônio da Humanidade”, vimos que a melhor estratégia é no primeiro momento conquistar o título para a praça e caminharmos para a conquista do título para a cidade, pois o Centro Histórico de São Cristóvão mantém-se bem conservado do ponto de vista de seus casarios, ruas, igrejas, becos e ladeiras, além disso temos o rio Poxim (que banha a cidade de São Cristóvão) com um dos mais belos manguezais do Estado, o que coloca a cidade também como um patrimônio natural. Isso tudo nos credencia para que no segundo momento termos São Cristóvão (a cidade) como Patrimônio da Humanidade.
JC – Quais as vantagens que o município conquista com o reconhecimento da praça como patrimônio da humanidade?
LAS - A chancela da Unesco aprovando na sua reunião anual o título de Patrimônio da Humanidade, coloca a praça São Francisco no roteiro do turismo cultural internacional. Isso por si só já representa um afluxo de recursos muito grande, se estamos falando do pós-conquista; nesse momento, o município já está ganhando com os investimentos imprescindíveis na área de Infraestrutura, turismo, educação, cultura, meio ambiente e marketing, que atinge um montante de aproximadamente R$ 30 milhões, entre recursos federais e estaduais (Programa Monumenta), antes mesmo da chancela e até por conta da mesma a sociedade civil, o município, o estado e a união ajustam entre si procedimentos de compartilhamento para a conquista do título que no caso específico não é só para o sancristovense, é um título para o povo sergipano e para o povo brasileiro, pois em 2010 o único processo do Brasil é o processo da praça São Francisco/São Cristóvão/Sergipe/Brasil.
JC – O que tem sido feito em São Cristóvão? As recomendações da Unesco serão atendidas dentro do prazo?
LAS - É importante lembrar que estamos trabalhando neste momento as recomendações que constituem condições sine qua nom para chancela da Unesco, estamos cumprindo os prazos exigidos, desde a aprovação do plano diretor do município, aprovado pela Câmara Municipal de São Cristóvão no mês de setembro ultimo, até o grande projeto de esgotamento sanitário do Centro Histórico de São Cristóvão, cuja licitação deverá ser aberta no próximo dia 5, a proteção das matas ciliares no rio Poxim, a melhoria da rodovia João Bebe Água (trecho até a rótula do Eduardo Gomes) que em março próximo será entregue, a rede de fiação subterrânea, o projeto de luminotécnica, e restauração de casarios, igrejas, ruas, elementos artísticos (pinturas, painéis). Todo esse trabalho está em andamento, garantindo que todas as obras pensadas e recomendadas estarão concluídas ou em andamento para conclusão até março, ou licitadas para assinatura de ordem de serviço e início imediato em janeiro ou fevereiro.
JC – Há um trabalho de sensibilização da comunidade sancristovense para a importância do título?
LAS - Desde o primeiro momento tomamos como principio básico que as pessoas só protegem aquilo que amam e só amam aquilo que conhecem, por isso a Educação Patrimonial constitui elemento chave do nosso trabalho em São Cristóvão. Para tanto, abrimos o escritório da SUBPAC em São Cristóvão desde 1º de outubro e desde então a equipe visitou escolas públicas e privadas, feiras livres, povoados, colônia de pescadores, igrejas, grupos de idosos e jovens, fábricas de beiju e de doces, teatro, escolas de música, enfim, espaços sociais que tradicionalmente agregam a comunidade sancristovense. Promovemos palestras com os professores atuantes em São Cristóvão e temos conseguido um número surpreendente de presenças: mais de 200 professores. O nosso primeiro trabalho de mobilização já foi impactante: panfletamos nos desfiles cívicos do município (realizados dias 7 e 13 de setembro) e divulgamos a causa patrimonial para milhares de pessoas. A receptividade é boa e vários projetos já foram efetivados, como o Dia da Sergipanidade, em que promovemos apresentações de grupos folclóricos e artistas locais, além de ceder espaço para o artesanato, a culinária e a arte locais; o Música na Igreja, através do qual o grupo Renantique apresentou músicas medievais e renascentistas se apresentaram nas igrejas de Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora do Carmo e na igreja de São Francisco.
FONTE: Entrevista concedida a Eugenio Nascimento. Jornal da Cidade. Aracaju, 1 de janeiro de 2010.
Thiago. Sugiro que seja colocada uma nota de errata na segunda resposta de Luiz Alberto. É que ele mencionou o rio Poxim como aquele que banha São Cristóvão, ao invés do Paramopama.
ResponderExcluirRio Poxim banhando a cidade de São Cristóvão?
ResponderExcluirThiago veja o vídeo que fizemos sobra a campanha da Praça:
http://www.youtube.com/watch?v=wYI2B6SdAUw
De fato, o nosso amigo Luiz Alberto se enganou, quem banha a cidade é rio Paramopama que encontra o Vaza Barris antes do povoado Pedreiras. Agradeço a observação dos senhores. Ah! gostei muito do video dos escoteiros.
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